Não há nenhuma novidade na reengenharia proposta por recortes da esquerda nacional ao propor a criação de uma Frente, reunindo sob o mesmo teto desde gente que quer atear fogo no celeiro até quem carrega o balde cheio d’água.
Como escreveu o professor Richard Sennett, olhar para trás e corrigir erros monstruosos em quantidade e qualidade, exige também uma coragem e uma disposição monstruosas. Só o faz quem está honestamente disposto a ser perdoado, que nada mais é do que pedir a anuência do outro para refazer o já feito. Ou seja, recomeçar.
Estivéssemos no século XIX e ainda teriam chance os jacobinos, Robespierre à frente, de obterem perdão pela invenção do terror como política de Estado e a introdução do medo como leitmotiv do totalitarimo. Ainda assim entrariam para história como celebridades.
Mas estamos nos século XXI. Diferente da França jacobina, a maioria das pessoas é alfabetizada, fala o mesmo idioma, acessa informações e é capaz de associações complexas. Assim, a primeira pergunta que a consciência nos faz, frente á proposta de Frente Esquerda é: E o que farão com os erros monstruosos?
Afinal, exceto por membros do Psol, que não participaram do Banquete dos últimos 13 anos, PT e Pc do B refestelaram-se no tempo em que as vacas gordas serviam para fazer com que a população, sobretudo a mais pobre, relevasse os meios do engorde. Tarso Genro foi Ministro no auge do mensalão e nossos internacionalistas do Pc do B tocaram ministérios como quem pratica esporte. E mais: a vaca ainda não tossia.
Pois retorna a pergunta: o que Tarso e Aldo Rebelo, por exemplo, farão com os erros monstruosos? Jogarão no colo de Lula, de Dilma, de Dirceu, Vaccari Neto, para poderem fugir pela porta da FRENTE?
Já repeti várias vezes que a esquerda, sobretudo o PT tem uma grande oportunidade de dar um exemplo de reinvenção da política nacional. Ele começa no reconhecimento dos erros monstruosos cometidos e segue no pedido de desculpas público á população brasileira. Se fizerem isso, economizarão tempo e saliva e, num passe de mágica, conterão a tal onda conservadora, filha dileta do petismo e que agora serve de conteúdo ideológico para a criação da tal Frente.
A reengenharia da Frente imita, ironicamente, uma fórmula utilizada nas privatizações do período tucano: para o comprador se entrega a parte boa da Empresa pública. Para o governo fica a parte podre e suas dívidas.
No fundo, no fundo, a reengenharia da Frente de Esquerda é uma operação neoliberal. Tarso e cia. ficam com o PT de antes da Era Lula- AL. E Dilma com o pós – DL.
Sinto dizer, mas a nova empresa começará seus trabalhos em crise de confiança e credibilidade. Porque, neste caso, a porta da frente estará trancada pela inteligência dos brasileiros.
Parabéns pela visão clara do que ocorre atualmente no nosso país