Não há mais para onde correr. Aguentem, pois teremos as consequências… não venham, depois, falar que a natureza é cruel ou que Deus não teve piedade. Os mares estão assistindo ao espetáculo de horror em que nos tornamos. Luz, câmera e ação: não são indicações românticas de atos do cinema, o que estamos vendo é real. Poseidon com sua fúria não nos traz tanto medo como o que estamos vendo sair da África em direção à Europa. Milhares de pessoas se atirando em fuga, em busca não do paraíso perdido, mas de algum sinal de sobrevivência.
As correntes filosóficas que permearão os debates nas redes sociais não darão conta de tanta degradação, não darão conta daquilo que sabemos ser o retrato da falência dos sistemas políticos e econômicos elaborados pela inteligência do homem.
O Mar Mediterrâneo tem presenciado a mendicância, a fome, o resto dos homens, mulheres, crianças, jovens, idosos, brancos, negros, magros, famintos e sedentos advindos do continente moribundo. Fugir é a última chance.
A Europa, em crise, corre para decidir como e quanto poderão receber. Até o momento, são mais de 1800 mortes, homens, mulheres, crianças, jovens, idosos, brancos, negros, magros, famintos e sedentos advindos do continente moribundo, mortos no oceano, afogados em seus próprios sonhos, certos das injustiças, da má distribuição de riquezas, coisas sem importância, afinal, é o sistema, não é mesmo?
Poseidon, em seu trono no fundo do mar, tem assistido atônito o que somos capazes. Não conseguiu provocar maremotos, surpreendido com o que considera a fúria do homem contra o próprio homem. Seu pai, Cronos, dá tempo ao tempo, e sua mãe, Réia, agora infértil, chora.
As rotas que levam ao continente europeu devem ser visitadas com ajuda humanitária. As guerras causam o exílio e o asilo tem de ser imediato para evitar mais mortes. Não é uma questão apenas de fronteiras, aliás, não pensemos nelas. São mais de 1800 mortes, homens, mulheres, crianças, jovens, idosos, brancos, negros, magros, famintos e sedentos advindos do continente moribundo, mortos no oceano, afogados em seus próprios sonhos …