Era a década de 1970, e lá fomos nós ver a apresentação do grupo Asdrubal Trouxe o Tombone. Para quem é bem mais moço do que eu, essa troupe acabou fazendo história na televisão e na comédia brasileira. Gente como Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães, Patrícia Pillar e Evandro Mesquita, encenava a peça Trate-me Leão, que adolescentes de Porto Alegre assistiam, num espetacular teatro. Aquilo marcaria nossa dramaturgia para sempre.
Essa é a imagem mais emocionante que eu tenho daquele local: um espaço voltado para a cultura, que nos aproximava do que de melhor era encenado em nosso país, além dos emocionantes filmes, que mais fantásticos ficavam naquele lugar. Não é preciso dizer a dor de vê-lo transformado em uma igreja, anos depois. Nada mais penoso, entretanto, do que saber que aquele prédio, construído em 1958, está prestes a desaparecer.
O Cine Teatro Presidente faz parte dos bens inventariados de nossa cidade, conforme publicação no Diário Oficial de Porto Alegre, do dia 15 de abril de 2008, página 70, como bem de estruturação. Isso quer dizer que, segundo nosso plano diretor, aquela edificação possui valores que atribuem identidade ao espaço, constituindo elemento significativo na estruturação da paisagem onde se localiza.
Pela Lei 601/2008, que trata dos inventários de Porto Alegre (aquela que o Vereador Cecchin quis modificar e foi julgada inconstitucional), os bens de estruturação, como é o caso, devem ter questões como a acessibilidade e a proteção contra incêndios compatibilizadas com as características arquitetônicas, históricas e culturais do imóvel. Logo, parece-me totalmente ilegal sua demolição ou mesmo a simples manutenção da fachada, como sugere uma reportagem sobre o assunto.
Mais uma vez a população é surpreendida com a perda de parcela de sua memória e história. Tal como no processo do Cais Mauá, nosso patrimônio cultural é visto apenas como possibilidade de especulação imobiliária. Ainda que o prédio seja particular, faz parte dos bens inventariados de Porto Alegre e preservava resquícios de uma era na qual existiam cinemas de rua.
De que adianta fazer um inventário, diga-se, instrumento constitucional de proteção de nosso patrimônio, se o poder econômico desconhece as limitações? Qual é o papel de nossos órgãos de defesa desses bens, já que assistimos cotidianamente eles serem negociados? Por tudo isso, temos que nos manifestar, através de mobilizações, de atos e de ações. Só assim, podemos construir uma cidade que contemple os desejos de sua população. A hora e a vez da luta pela preservação do Cine Teatro Presidente é agora!