A vida traz não as óbvias supresas, se assim fosse, por que o impacto da novidade? O sofrimento e a morte são constantes e óbvios. Embora os esforços dos queridos entes para evitar as tais experiências, o pássaro recém abatido, a formiga ou a minhoca esmagadas, a arvorezinha que não suportou o rigor de uma estação ou a bolada que a quebrou em brincadeira de pátio, tudo isto confirma: sofrem e morrem os amigos, os tios, os primos, os pais, os irmãos e os ídolos, são tantas experiências como estas, que chega a ser absurdo ficar atônito com sofrimento e morte. Tolos e ousados, insistentes, talvez, queremos desprezá-las. Sorte dos seres sem uma tal consciência (sabe-se lá, sem comunicação, é difícil).
Se sofrer e morrer é demasiadamente óbvio, qual o oposto? A vida, sim, esta que, nos parece banal, a cada novo minuto traz uma oferta, o ar, o sol, o friozinho ou uma chuva. Sim, já os vivemos, mas quantas vezes foram como hoje?
Um tanto piegas, talvez. Provavelmente, seja este o meu carma, experenciar a instabilidade para aprender algo neste mundo onde sofrerei e morrerei, mas poucas vezes terei a chance de encontrar novos amigos, rever os antigos, de apoiar e ser apoiado, de curtir novos sorrisos, de compartilhar e recuperar a esperança. Nada disto se repete, porque sofrimento ocasionado pela mesquinharia, pela infidelidade ou pela natureza do perecer são óbvios, viver, com a intensidade da primeira vez, porém, é sempre surpreendente.