Muito tem se falado, nos últimos dias, sobre o vandalismo nos protestos em todo o Brasil. As opiniões são as mais diversas. Há quem diga que são pessoas pagas por grupos de direita para bagunçar as manifestações, para que percam a credibilidade. Há quem diga que são P2 – policiais infiltrados, com o objetivo de causar confusão e justificar a ação truculenta da Brigada contra todos os demais manifestantes. E há essa entrevista do Centro de Mídia Independente, com um participante de quebradeiras durante os protestos em Porto Alegre.
Se essa entrevista for verdadeira, e se for verdadeiro o que o manifestante diz, estamos diante de uma nova forma de protesto. É claro que não dá para generalizar e pensar que todas as pessoas que estão quebrando as coisas pensam dessa forma. O entrevistado em questão conta que “muitas fichas têm caído para ele ultimamente”, e ele, que viva de bicos, vendendo água, DVD, se dá conta da exploração e das injustiças de que é vítima. “É sempre assim, todo ano, mais e mais, o aumento da passagem é só mais uma injustiça no meio de um monte de outras. Quase todo mundo está sendo superexplorado. Uma hora o povo cansa de ser miserável vendo político falando em progresso e crescimento e roubando seu dinheiro. A gente tá cansado disso”. E esse cansaço pode ter determinado a revolta de muita gente. “Tem muita galera diferente que tá na rua, cada grupo tem seu critério. Mais porra-loca é a gurizada mais nova que vem das vilas e sente muita revolta, mas não consegue separar bem as coisas e faz bobagem, ataca um carro, uma banca de revista, o que a imensa maioria de quem tá depredando é contra”.
É claro que não foi só um carro. Além dos bancos e de grandes empresas, foram muitos carros, muitas lojas de pequenos comerciários. Se está certo não, se isso é uma forma legítima de protestar, aí há muitos questionamentos, mas o fato é que violência maior do que essa – ou a violência que gera esta outra forma de violência – é a violência do Estado, ao não garantir direitos. Como é garantido o direito de “ir e vir”, por exemplo, com passagens tão caras? Como é possível acreditarmos que os políticos estão governando por nós se Renan Calheiros, envolvido em escândalos de corrupção que o fizeram deixar a presidência do Senado em 2007, novamente é o presidente da Casa? Como é possível acreditar em uma sociedade justa, se as oportunidades são tão restritas para aqueles aos quais já são sonegadas boa parte dos direitos?
Não ter atendimento de saúde ou passar horas na fila do SUS não é violento? E não ter creches para os filhos, quando se precisa trabalhar? Não ter acesso à moradia, não é uma forma de privação de direitos?
Não, eu não sou a favor do vandalismo. Mas acho que precisamos refletir sobre ele, principalmente para tentarmos dar um fim à violência. A todas as formas de violência.