Eles entraram no consultório, com um certo ar solene e ao mesmo tempo com um pedido de ajuda. Ela começou a falar, são sempre elas que começam a falar, mantinha uma beleza e jovialidade no comportamento que impressionava, ao mesmo tempo falava de inúmeras tentativas de engravidar e da grande frustração que sentia. A maternidade era o seu maior desejo, a verdade é que não se importava muito com o sucesso profissional, financeiro e outras conquistas que tinha tido pela vida. Como vimos, parte do grande desejo de ser mãe era de alguma maneira resolver velhos conflitos de abandono que teve com sua própria mãe.
Ele a interrompeu e começou a falar em tom autoritário, que ele tinha lido um artigo e, a partir daí, feito uma “extensa “pesquisa no Google sobre adoção e a conclusão a que teria chegado era que crianças adotadas eram mais propensas a serem problemáticas!
Ele era engenheiro e tinha uma certa propensão a ser dono da razão sempre, que era um dos grandes problemas do casal. E ele continuou a desfiar as mil possibilidades de problemas que, teoricamente, uma criança adotada poderia ter. Mantive-me em silêncio para tentar entender o conflito que estava acontecendo entre os dois, já que cada palavra dele era acompanhada por uma expressão facial de dor por parte dela. Quando ele terminou, olhou-me fixamente e me perguntou: “não tenho razão”?
Disse que sim, mas, antes de ele explodir em júbilo e sua esposa se derramar em choro, fiz um sinal com a mão para ele esperar.
E comecei a falar, que a aventura de ter filhos era perigosa, seja filhos de barriga ou filhos de coração (como pais adotivos gostam de nominar seus filhos), tudo pode dar errado, bons pais podem ter filhos problemáticos e maus pais podem ter filhos ótimos, seja o que isso for. Além de impactar o orçamento familiar e o sono dos pais, quando se tornam adolescentes e começarem adorar a madrugada em noitadas intermináveis.
Médicos, hospitais, diretora e psicóloga do colégio, babá, empregada, avós, valentões, sexo seguro, gravidez na adolescência, mesada, mensalidades do colégio, do inglês, da natação, do espanhol, do professor particular e, finalmente, dinheiro para o japonês porque “o infeliz” precisa se socializar à custa do seu orçamento. E o pior, que você talvez fará isso com um sorriso no rosto na maior felicidade.
Mas aviso: a paternidade, que só existe uma: a adotada. Já que temos sempre que adotar nossos filhos, não importa de onde venham. É uma droga pesada cheia de perigos e tropeços possíveis, pode, porém, ser uma experiência fundamental e revolucionária na vida.
Ela se tornou mãe um par de anos após nosso encontro e começou sua terapia individual com o mesmo psicólogo, mas com outro marido!