Não somos simétricas, princesa. Enquanto me encanto por aquela parte clara em volta da pupila dos seus olhos cor de peroba do campo, você brinca de achar a minha pupila perdida no castanho fechado dos meus. Quando nos tocamos, as nossas cores se misturam, como no encontro das águas, a sua pele, Solimões, encontra-se com o Rio Negro que me reveste. Assim como os rios, não nos fundimos, porque o majestoso mesmo é o encontro. Somos assimétricas, carinho. Fui criada entre as montanhas, minha terra tem cheiro de café passado na hora e pão de queijo quentinho, como os nossos corações quando estamos juntas. Suas terras são gaudérias, onde o chimarrão é tão acolhedor quanto o nosso abraço. Meu sotaque é lento e compactado “c entende?” e se desmancha ao vibrar com o tremido da letra “r” quando me diz “tu é o meu amor.” Comungamos diferenças, nunca incompatibilidades. Revezamos; por vezes você fica na ponta dos pés e me alcança, em outras me curvo e alcançamos a nossa estatura ideal. Nunca perderemos a diferença nítida de altura, mas sempre encontraremos nosso ponto em comum. Ocupo quase todo o espaço, você cabe exatamente no que resta.
Eu sou ligada na voltagem 110, você na 220. Usamos os nossos corações de transformadores, literalmente. Você seria facilmente qualquer música dos Beatles enquanto talvez, me encontraria no arranhado da voz da Nina Simone. Nos completamos e somos tão completas que não nos diferimos. Se me chamarem pelo seu nome, respondo prontamente. Algumas pessoas dizem que somos meninas, mas somos apenas pessoas. Somos almas gêmeas univitelinas nascidas do ventre do amor. Não cortamos o cordão umbilical, nem temos a menor intenção de fazê-lo. Nunca pensei que amaria alguém que não fosse eu mesma, hoje não me vejo amando alguém que não seja você.