Leyla, impulsionada pela perda daqueles cinco quilos, em um duro e suado regime, entrou no shopping para comprar um maiô novo. Motivada pelo desejo de se tornar mais sensual e “desfrutável”, se via como uma elegante mulher francesa esguia em um maiô sensual à la anos 60 em uma capa da “Vogue”. Percorreu o shopping e descobriu que francesas chiques estavam em falta, pelo menos na moda praia. Os maiôs eram ou para crianças com as meninas superpoderosas estampadas, ou para senhoras mais senhoras do que ela se considerava.
Realizou o que viu e decidiu mudar a estratégia, iria comprar um biquíni, coisa que ela pensou fazer só daqui a cinco quilos a menos, mas a realidade era que o maiô que ela sonhava que ia transformá-la em um transbordamento de sensualidade não existia. Encontrou, em uma loja a salvação. Nesta ela podia desmembrar o soutien da calcinha, assim podendo acomodar melhor suas características corporais que a modelagem das confecções insistiam em dizer que pertenciam a dois corpos diferentes.
Finalmente, seios e bunda acomodados, Leyla sentiu um descarga de tesão percorrer suas costas. A calcinha, um pouco mais cavada e apertada do que estava acostumada, dava-lhe uma sensação de prazer e sensualidade. Neste instante, lembrou-se de um antigo namorado – um que tinha pegada. Riu ligeiramente ao repetir esta frase mentalmente.
Primeira parte da empreitada resolvida, agora faltava a segunda parte: que praia iria e a que horas? Para quem não está familiarizada com a dinâmica das praias no Rio de Janeiro (mas acredito que seja igual em qualquer lugar), os grupos se dividem por setor da areia (postos) e por horário. Estava decidida: iria a Ipanema, que sempre tinha ido toda sua vida, mas iria cedo por causa da exposição aos raios ultravioletas. Sim, a questão do câncer de pele é importante, mas como ela logo se corrigiu, e nem precisou da ajuda do seu analista para isso, ela iria no horário das crianças pequenas e das mães recentes com os corpos ainda um tanto descuidados. Era a camuflagem que precisava!
#Fui! Escreveu no Facebook e chegou na praia. Pediu uma cadeira e guarda-sol ao barraqueiro (o preço do aluguel está um absurdo!), sentou um pouco sem jeito; a verdade é que antes de sair de casa deu o último “check” em seu corpo, apesar de se sentir bem no biquíni, ao olhar suas estrias e celulites, desanimou e pensou por que a nossa visão é sempre diferente do que sentimos. Ela estava sentindo-se sensual no biquíni, o espelho a traiu, mas mesmo assim ela estava na praia. Cedo para pedir uma cerveja, e mesmo assim não poderia, a dieta lhe impunha esta limitação, mas a revista que trazia na bolsa iria lhe fazer companhia. Os títulos eram de muita ajuda: como chegar ao orgasmo em dez passos e como perder dez quilos em dez semanas. Isso não a animou muito. Deu um mergulho, bebeu um mate, diet claro, e passou um bom tempo olhando o mar. Deu onze horas e a praia começou a encher, decidiu seguir o bom senso e começou a levantar o acampamento e foi para casa.
Chegou em casa, algo a incomodava, tinha fugido, o que ela queria mesmo era estar na hora das pessoas “in” na praia, na hora das pessoas bonitas, só assim voltaria a ser bonita, pensou. Tomou um banho para refrescar e fez um pequeno lanche em lugar do almoço como é recomendável para quem vai a praia, E partiu, de novo postou no face, #Fui.
Desta vez não pediu uma cadeira. Esticou a canga, fez um travesseiro de areia e decidiu dar uma cor ao seu corpo, portanto, nada de guarda-sol também. Deitou de bruços e experimentou um grande prazer com o calor a tingir suas costas e nádegas . Estava orgulhosa de estar ali e girava a cabeça para olhar os corpos seminus a sua volta, o calor aumentava e já imaginava a cor que gostaria de ficar, e lembrou que sempre se orgulhava que, com um pouco de sol, não ficava vermelha e, sim, morena e em um flash começou a ver o seu corpo da mocidade naquela praia e, finalmente, começou a sentir pertencer de novo àquelas areias, àquele mundo de pessoas bonitas.
Seu olhar passeava pela areia e focou em uma adolescente que em pé agitava seu longo cabelo castanho para secar, provavelmente depois de um mergulho na água fria do verão. Mas, de repente, seu olhar foi atraído por um casal, sentado em uma toalha há alguns metros atrás da linda adolescente. Era um casal de cetáceos (assim ela chamava as pessoas gordas no seu tempo de colégio). E pior! Eles estavam se beijando apaixonadamente e seus corpos se dobravam em boias e pneus de gorduras em um espetáculo que a deixou chocada. Aquilo era um absurdo, um disparate, era anti-higiênico. Gritava mentalmente sua revolta. Em um movimento rápido e enérgico levantou-se, recolheu a canga, olhou com desprezo para aquele casal apaixonado e foi para casa quase marchando demonstrando sua irritação com tal cena deplorável em sua praia. Sua querida praia a que ela pertencia!