O assunto da semana está sendo a derrubada de parte dos armazéns do Cais do Porto para que, no local, seja construído um centro comercial, conhecido, aqui em nosso país, como shopping Center. Primeiramente, a população fica aturdida com a derrubada inclemente de um dos símbolos de Porto Alegre. Nas ruas e redes sociais, o que se ouve é o lamento pelo patrimônio derrubado. Quase que de imediato, as pessoas procuram interromper o processo de destruição da cidade, em especial daquela que está impregnada de lembranças e serve de base para seu presente. Perde-se um referencial importante para todos.
Aprofundando a questão, chega-nos a informação de que os tais prédios que foram demolidos, na verdade, não são tombados. A parte que recebeu essa proteção jurídica mantém-se preservada. São os armazéns adjacentes ao pórtico, que se posiciona próximo à Secretaria da Fazenda, na Av. Mauá. De qualquer maneira, no meu ponto de vista, existem dois pontos de conflito nessa situação e que devem ser analisados antes que desavisados fiquem taxando de grupos políticos com interesses pessoais aqueles que se posicionam contra a demolição daqueles imóveis.
A primeira questão diz respeito à importância dos prédios demolidos no contexto da ambiência local. Os bens tombados, além de serem protegidos, demandam também certa proteção de seu entorno. O mesmo está acontecendo no caso do Museu Júlio de Castilhos e a polêmica autorização da construção de prédios altíssimos ao lado, prejudicando a estrutura do museu e o próprio acervo, pois altera ensolação, ventilação, umidade etc.
Ainda sobre a questão afetiva e de memória, segue um trecho da fanpage do movimento Chega de Demolir Porto Alegre[1] que expressa esse sentimento:
“O prédio demolido no Cais do Porto era o local das balanças usadas pelo porto e pelo comércio de Porto Alegre. Também abrigava um refeitório (Restaurante), ponto de encontro dos trabalhadores portuários e clientes. Na análise de valoração dos armazéns do Cais realizada para o projeto de revitalização, este trecho foi considerado sem valor arquitetônico e sua demolição foi autorizada pelos órgãos de preservação.”
A segunda discussão se dá em relação à forma pouco transparente pela qual projetos, em especial aqueles que vão mudar radicalmente a “cara” da cidade, são tratados. É bem possível que existam inúmeras explicações técnicas que embasem a demolição de parte do cais: critérios de arquitetura, de história, até mesmo estruturais podem ter determinado tal atitude. Mas, como já ouvi da boca de um (hoje) alto funcionário da prefeitura: vai perguntar pro Zé Mané o que ele acha? A resposta é simples: claro! Os megaprojetos não levam em consideração, muitas vezes, o que quer a comunidade, quais suas expectativas, os usos daquele espaço. Aliás, foi por iniciativa do IAB/RS, que houve uma audiência pública, onde Jaime Lerner foi chamado a explicar sua criação para a população de Porto Alegre.
Porto Alegre está crescendo e se expandindo. Isso é inevitável. Mas o modo como deve se dar esse crescimento – planejamento -, quais os princípios orientadores das decisões a serem tomadas e quais os interesses devem ser priorizados constituem o molde que conformará a cidade. Infelizmente, temos visto que o molde que está sendo usado para Porto Alegre a torna cada vez mais distante da cidade desejada por seus cidadãos.
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