Em 2011 o Portal Meu Bairro fez sua primeira matéria sobre o crescente número de assaltos a carros na zona Sul (veja aqui). Apesar dos esforços da 4ª Companhia da Brigada Militar, naquela época coordenada pelo Major Luz e que agora tem à sua frente o Comandante Fábio Kuhn, os ladrões continuam a atacar aos moradores da região. Essa situação alarmante fez com que a comunidade se unisse no último sábado, em frente ao Colégio Mãe de Deus, para uma caminhada que pediu às autoridades para que olhem com mais cuidado para essa situação.
Essa semana, o Comandante Fábio Kuhn concedeu essa entrevista exclusiva. Ele fala sobre segurança, direitos, deveres e muito trabalho.
“A lógica é que pare na Polícia ou no Juíz”
Entre os muitos motivos que podem ser elencados para a não diminuição da criminalidade, para o Comandante Fábio Kuhn, o principal é a Lei penal do País. Para ele, com as penas brandas, o sistema não consegue confinar e reeducar/socializar o preso para que ele, quando obtiver a liberdade, esteja consciente de que errou e não volte à prática criminosa. Lembrando que os únicos que podem mudar a Lei são os Deputados Federais, Fábio salienta que Legislação permite “brechas” para interpretações e contestações, muitas vezes protelatórias. “Os presídios abarrotados de presos, muitas vezes sob condições precárias, também não ajudam nessa reeducação”, salienta.
Falta de estrutura
A falta da estrutura familiar como referência, pai e mãe, também tem levado muitos jovens às drogas, prostituição e ao mundo do crime, de acordo com o Comandante. Para ele, a família é o primeiro “freio” da sociedade, onde limites devem ser impostos, e o amor, a fé, carinho e o respeito, cultivados. “Na falta ou omissão desta, a escola, como um “2º freio”, já não conseguirá ajudar tanto quanto muitos imaginam, e a lógica é que pare na Polícia ou no juiz”. Fábio salienta que a Polícia, parte palpável do Estado, tem trabalhado de forma incansável na defesa da sociedade, com limitados recursos humanos e materiais com inúmeros fatores em seu desfavor e a maioria deles fora da sua alçada de solução, mas que atingem diretamente o seu trabalho. “Não raras vezes, é atribuída à ela a culpa pelo “caos”, e é chamada pela imprensa para tentar explicar o inexplicável, como se não quisesse resolver o problema, pela má vontade ou incompetência; ora, posso afirmar que a Polícia tem feito muito com pouco, mesmo que não pareça ao cidadão”.
Prevenção contra os roubos
Aos cidadãos, salienta Fábio Kuhn, cabe cobrar dos políticos mais investimentos na área de Segurança Pública e tomar cuidados básicos como atenção ao chegar e sair de casa (pessoas estranhas), principalmente de carro. “Geralmente os assaltantes são jovens entre 16 e 25 anos e atuam de dupla ou chegam de carro (roubado), às vezes bem vestidos”. Os roubos têm acontecido em horários diversos, mas entre 18 e 22h é o pico do roubo de carro.
Outra atuação importante é na participação das associações de bairro e, dessa forma, dar eco as vozes, salienta. “O Jardim Isabel e Ipanema são um exemplo disso. Uniram-se e obtiveram melhoras”. A Vila Conceição e 7º Céu também têm participado desse processo e está recebendo o apoio da Brigada Militar. “Juntos somos fortes”.
Combate a perturbação e ao sossego
“Eu elegi como prioridade o combate a perturbação do sossego alheio na orla de Ipanema nos finais de semana”. E essas ações têm dado resultado. Há alguns meses os moradores do bairro têm se organizado através do movimento Ipanema: Eu moro, Eu Cuido, e cobrado das autoridades melhorias e ações na região. Além da perturbação do sossego, há outros delitos como consumo de bebida alcoólica, droga, rachas, brigas que estavam acontecendo rotineiramente no bairro.
Conflito de interesses.
O comandante lembra que perturbação do sossego alheio infelizmente tem sido uma prática muito comum, que incomoda bastante, principalmente nos finais de semana, o que, para ele, demonstra a falta de discernimento do limite entre a diversão e o respeito ao direito do outro de descansar. “A praia é um exemplo disso, uns vão para descansar e outros para fazer festa, como equacionar isso? Não é uma tarefa fácil”. Os moradores de Ipanema têm reclamado que não conseguem dormir devido aos sons estridentes que saem dos veículos estacionados na orla, fazendo competição entre si. “O Estado tutela a paz pública, fazendo previsão legal na Lei de Contravenções Penais (artigo 42)”, diz Fábio que completa: “O dever da Corporação é garantir o direito de todos e agir nesta direção, é o que estou fazendo e tem dado bons resultados”.
Dificuldades na Avenida Coronel Marcos
De acordo com o comandante, os moradores querem que o espaço público seja ocupado por pessoas civilizadas, para que todos possam usufruí-lo, sem prejudicar ao próximo. Ele salienta um problema enfrentado junto com os moradores locais no Posto Shell, da Avenida Coronel Marcos com a Avenida Pasqualini, na entrada do bairro Jardim Isabel. A rotina, que era de som veicular alto, consumo de bebida alcoólica e drogas, foi transformada com ações de fiscalização e presença constante. “Conseguimos reestabelecer a ordem e estou procurando mantê-la. A liberdade proporcionada pela democracia deve ser usada com consciência e respeito”.