“Para as ruas”, postam nas redes sociais os revolucionários egípcios e tunisianos, assim como os ativistas espanhóis e gregos. Pois é a partir das ruas que, desde a revolução húngara de 1956, desenha-se uma nova tecnologia de mobilização e transformação social e um conteúdo verdadeiramente revolucionário para a política. Falo da aversão à violência como método de libertação dos povos – violência que é a renúncia à essência da política, que é o falar – e da liberdade como objetivo de fundação de uma nova ordem – que é o pleno exercício do poder.
Desde a redemocratização, “as ruas” para Porto Alegre – seu espaço público de participação – têm se alargado. Contudo, OP, Conselhos, Fóruns são ainda apenas uma face da Cultura Cidadã, em que a palavra sepultou a violência e vitórias foram acumuladas na garantia de direitos e melhoria das condições sociais.
Falta-nos, porém, a liberdade, no seu sentido mais radical: concertar ações a partir da multiplicação de territórios de poder que, tendo no Poder Público um aliado importante, impõem-se na cena pública através de alianças sociais mais amplas, autorreguladas, capazes de planejar e executar projetos de desenvolvimento e, sobretudo, lograr um equilíbrio entre o que é legal, moral e cultural no interior das comunidades. Nesse sentido, qualidade de vida passa a ser entendida como felicidade pública, na qual emprego, renda, educação e saúde tornam-se tão importantes quanto preservar o patrimônio público, respeitar as leis do trânsito, recolher o lixo, não tolerar as drogas e a violência doméstica.
Em suma, sem Participação no espaço público, Autorregulação e Cuidado com nossas leis, nossas crenças e costumes, teremos sempre que multiplicar nosso tempo, esforços e espaços de controle social, tendo em vista que o autoritarismo e a corrupção se reinventam.
Tudo isso somado e devidamente consolidado pode conformar uma Porto Alegre muito mais democrática e, especialmente, mais corresponsável com seu cotidiano e seu futuro. Uma nova Cultura Cidadã.