Está certo, irônico leitor, se você lê frequentemente o que escrevo aqui em Meu Bairro certamente vai lembrar de um texto em que escrevi que iria fugir dos brasileiros em Nova York. Como em outras vezes na vida, eu mordi a língua. Primeiro, porque é impossível: eles estão em toda a parte. E, segundo, para alguém como eu, que não sou fluente em língua inglesa, fica difícil amizades do nível “vamos programar alguma coisa pra fazer final de semana”. Então, o tempo passa, você tenta se aproximar do pessoal daqui, mas, na verdade é muito mais fácil você criar contatos e amizades com outros brasileiros e com outros estrangeiros que moram aqui. Até porquê não dá para generalizar: há brasileiros de todos os tipos e, assim como uns merecem ser evitados, outros merecem o melhor que podemos dar. Afinal, como no meu caso, ou você recorre aos brasileiros e outros estrangeiros ou fica em casa, pois dificilmente um americano vai dar muita abertura para alguém que está tentando “aprimorar” a língua.
Bom, sendo assim, nesse um mês e uma semana posso dizer que tenho, por enquanto, apenas “conhecidos” americanos e, as pessoas que me convidam para fazer algo ou que eu me sinto a vontade para convidá-las são brasileiras. E isso é bom (admito, humildemente, que aprendi isso). Pois só alguém que fala a sua língua e entende todos os seus palavrões vai te tratar como irmão no mesmo dia em que você a conheceu. E é isso que acontece na prática (e que eu não enfiava na minha cabeça antes). Mas, também defendo myself, dizendo que escrevi aquele texto, em parte, para polemizar mesmo, e em outra, porque eu estava pensando no lado podre do Brasil (dos atrasos institucionais, da burocracia, da sem-vergonhice do governo e de boa parte do povo, etc). Mas, como disse, já que tem tanto brasileiro aqui, dá pra escolher com quem se cria amizades.
Foi com essa ideia que fiz, até agora, pelo menos duas grandes amizades (além de ótimas parcerias) – Ok, só estou aqui há um mês, mas conheci duas pessoas que além de parecer que eu as conheço há anos, rola aquela afinidade de um ajudar o outro, etc. O primeiro é o Walter Azevedo, professor de português da New York University que mora aqui há 25 anos (minha memória é péssima, não lembro se já falei dele). O cara é muito gente fina, se dispõe a ajudar em tudo e conversamos durante horas sem ver o tempo passar sobre todos os assuntos possíveis e imagináveis. O outro é o Henrique, outro gaúcho que mora aqui há anos (ele veio pra cá com 4 anos). Conheci ele nos jogos do Grêmio que passam no Smithfield (até penduramos uma bandeira lá). Ele é praticamente um embaixador do Grêmio em Nova York. Desde que cheguei, além dos esporádicos e visitantes, eu e ele estamos sendo os dois gremistas assíduos que não faltam a um jogo do Grêmio. Tanto é que todo o pessoal já conhece nós e quando nos veem já perguntam que horas começa o jogo e contra quem é. Já fui em dois churrascos na casa dele, e ele tem um estilo diferente do Walter: parece aquele amigo de adolescência que cresceu assistindo jogo e tomando trago comigo.
Enfim, acho que essa é uma das melhores coisas que acontecem aqui: pessoas que conhecemos, que nos ensinam, e que vamos lembrar delas para o resto de nossas vidas. Ainda tem muito tempo, mas não estou mais preocupado em virar um superamigo de um americano. Humildemente, eles não sabem o que estão perdendo!
Hasta!