Hoje, às 19h30, vou fechar os olhos e lembrar da Dona Lena e tentar passar à ela toda a força possível nesse momento. Há um mês eu conheci Dona Lena. No dia em que a vi pela primeira vez, não me apresentei. Ela estava em um momento de profunda dor, se despedindo do seu marido que havia levado um tiro na cabeça e estava morrendo. Vi durante quase uma hora a dor daquela senhora só aumentar. Amainar um pouco com a chegada do filho, dos familiares, mas aquele choro sofrido da Dona Lena é algo que vai ficar marcado em mim.
Me encontrei com a Dona Lena algumas vezes depois daquele dia. Acompanhando as manifestações por segurança, pude ver o quão forte ela estava sendo, mesmo passando por tudo aquilo. Com rosas brancas na mão, ela participou da passeata, das orações, da carreata. A mensagem dela era clara: “Não quero que a morte do meu marido seja em vão.”. Carlos Norberto Barbosa dos Santos morreu no dia 28 de março na Rua Doutor Peireira Neto, quase esquina com Santa Vitória. Eles estavam indo para o carro quando Carlos foi alvejado na cabeça em uma tentativa frustrada de roubo do carro. Considera-se latrocínio porque os dois homens fugiram com alguns pertences do casal e a arma de Carlos Norberto, que era capitão da reserva do Exército. Mas foi tão pouco o que levaram, tanta dor que causaram.
Na última vez em que nos encontramos, abracei dona Lena. Admito que fiquei emocionada. Queria poder dizer à ela tudo isso. Que estive lá, sei da sua dor, que sinto muito por tudo aquilo e que prometi que iria continuar acompanhando o assunto em memória de seu esposo. Não consegui concatenar direito as palavras, mas acho que Dona Lena entendeu nos meus olhos isso tudo.
Ontem, por um infortúnio, torci o tornozelo e não pude ir à reunião dos moradores do bairro Tristeza que se uniram para reivindicar segurança depois da morte de Carlos Norberto. Mas, sempre que puder, vou continuar nessa batalha. Já conversei com Juíz do Presídio Central, falei com especialista em segurança pública, representantes da Brigada Militar. Tenho um compromisso com Dona Lena e seu Carlos Norberto. Não pude dizer à ele, mas nesse editorial digo à ela: não será em vão, Dona Lena. Estamos juntas nessa luta.
Impossível não se emocionar e admirar ainda mais. Parabéns!