Fotografia: Guilherme Menezes
Ela fez o que pode para ser uma boa amante, companheira e amiga, encheu ele de agrados com receitas novas, fez suas vontades como uma boa cozinheira que era; fez o café da manhã, incansáveis vezes, mesmo quando ela sabia que tinha que sair mais cedo que ele, em gratidão ele lavou a louça para agradá-la.
Com o tempo ela percebeu que não poderia fazer parte daquilo e queria fazer algo diferente, pensou que era o cara certo num momento errado. A relação havia se desgastado, a rotina tinha deixado tudo muito monótono, e ela não era dessas que esperava pelas situações previsíveis, aquilo tudo a cansou e ela decidiu terminar o namoro, antes que fosse tarde demais para uma grande mágoa. Ela partiu para não tão longe e resolveu viver um pouco mais de sua experiência individual.
Foi uma fase boa de novas descobertas; de fortalecimento de laços com antigas amizades; de festas até o amanhecer, bebedeiras e histórias engraçadas para contar; foi uma época de viajar sozinha e meditar sobre a vida dela, do que era essencial para ela, de refletir sobre o que realmente era felicidade.
Então, de um momento para o outro, no meio de toda aquela solidão, ela encontrou explicação para o que era a tal felicidade, e ela apenas descobriu quando veio a infindável saudade dentro do peito, com inúmeras lembranças dele: enquanto ela cozinhava, ele dava um abraço apertado nela como se fosse símbolo de alguma forma de ajuda; quando no meio do mercado tocava uma música que eles gostavam e eles dançavam como se não houvesse mais ninguém ao redor; quando nas tardes chuvosas, ela ficava triste sem nenhuma razão aparente e ele secava suas lágrimas no colo dele, passando as mãos entre seus cabelos; nos dias de inverno, como eram quentinhas suas pernas entrelaçadas embaixo das cobertas e como elas se encaixavam da melhor forma possível; toda aquela cumplicidade de tomar banho juntos, fazer jantar e lavar a louça; fazer pipoca enquanto o outro abria o vinho, ou mesmo aproveitar o silêncio de estar juntos, cada um fazendo suas tarefas.
Recordações que a fizeram pensar no dia a dia deles, e que tantas vezes quando encontrava um cara legal, ela ficava esperando por aquelas palavras mágicas que deveria escutar a sua vida inteira mesmo que fosse de mentira. Então, se lembrou de quando ela escutou pela primeira vez ele falando “eu te amo”, como aquilo soou simples e natural, tal como encheu seu coração de alegria, e concluiu “era isso, era felicidade o tempo todo e eu não havia notado”.
Mudando o que seria o futuro, mas que já foi passado. Eles se encontraram novamente depois de seis anos na casa de um amigo em comum, ambos estavam solteiros, apesar dele ter namorado por quatro anos outra garota, quando ele a viu teve certeza que não deveria ir embora, sentiu vontade de conversar com ela e saber da vida dela. Ela estava ainda mais bonita do que aquela primeira vez que ele havia conhecido ela.
Ela seguiu o conselho de uma amiga que havia lhe falado para guardar sua paixão para quem a deixasse com os pés no ar, nem que fosse quando a pegasse no colo, ela sentia-se uma solteira convicta e não tinha a menor vontade de se relacionar com outros caras. Mas quando viu ele, soube que todo aquele tempo fazia parte do processo de maturação de ambos, agora era o cara certo na hora certa.
Dessa vez, eles não tiveram mais nenhuma dúvida, foram apaixonáveis no passo lento do caramujo; não deixaram de fazer suas tarefas individuais, não se anularam, inclusive somaram ainda mais; tanto que foram morar juntos, sabendo que todos os dias são pequeninos encontros com a famosa felicidade.