Fotografia: Dado Braz
Quando ele a conheceu na casa de um amigo em comum e ela estava com outro cara, e mesmo assim ele resolveu ficar para conhecê-la melhor, ele poderia ter ido embora. Quando ele fez a primeira ligação para convidá-la para jantar em um restaurante que ele gostava bastante.
Quando ele foi buscá-la e a viu saindo do prédio, com aquela roupa para impressioná-lo, mesmo achando que não tinha nada a ver com o que ele tinha visto na primeira vez, achou ela mais alta, diferente. Durante a conversa e ela pediu uma de suas cervejas prediletas antes de ele olhar no cardápio. Quando ele viu que aquele sorriso poderia iluminar o seu mundo e também destroçá-lo. Quando ele notou que aquele primeiro beijo roubado, seria perfeito mesmo se ele estivesse esperando para acontecer por uma semana, na frente do portão da casa dela, ao invés de ser na mesma festa que a viu pela primeira vez.
Quando nas inúmeras vezes que saíram juntos, ela deixou claro que não sabia o que queria, avisou que preferia que ele encontrasse outra pessoa, um alguém que pudesse lhe fazer bem, o tanto que talvez ela nunca conseguisse. Naquela vez que ela chorou baixinho no peito dele, pedindo que fosse embora porque não gostaria de fazê-lo sofrer. Em todas essas vezes, ele não desistiu, persistiu em tentar achar um jeito de dizer um bom dia, uma palavra para começar uma conversa, ou um link sobre um assunto que ambos achavam o máximo.
Então, ele a conquistou pela sua coragem e ela rendeu-se a sua dedicação, e sabendo que não seria fácil mantê-la, deu a ela muitos mimos, encheu a caixinha do correio dela de flores, a deu uma coroa de rainha suprema do teu coração, deu seu esforço, sua garra e o que imaginou para fazê-la uma namorada feliz e plena.
Ela fez o que pode para ser uma boa amante, companheira e amiga, encheu ele de agrados com receitas novas, fez suas vontades como uma boa cozinheira que era; fez o café da manhã, incansáveis vezes, mesmo quando ela sabia que tinha que sair mais cedo que ele, em gratidão ele lavou a louça para agradá-la (mesmo achando um saco ter que fazer isso todos os dias).
Os anos foram passando, a rotina sucumbiu, ele esqueceu-se da fortaleza que era essa mulher, dos desejos dela, das vontades que ela tinha e sempre carregou consigo, das necessidades de diálogo, das preliminares, da louça suja na pia. Esqueceu também que poderia ir embora se sentisse frustrado com o que ele se tornou ao lado dela, pelo abandono das suas próprias ideias, quando começou a surgir a vontade de ignorá-la falando de trabalho, quando sentia culpa de ser infeliz ao lado dela, essa mulher que avisou ele que não sabia o que era felicidade.
Entre essas e todas às vezes, de todas as situações corriqueiras, ele teve a opção de ir embora, mas não foi, ficou por que motivo? Ele acredita que ele próprio irá mudar? Ele acredita que ela irá mudar? Mas as situações não mudam se nós nos permitimos ficar.