Pessoas com Deficiência Física (PCDs) pedem melhorias por parte do poder público e também conscientização de moradores e comerciantes na hora de fazer as calçadas nos bairros.
“Aquilo que o mundo me pede não é o que o mundo me dá”. A música do cantor carioca Gabriel Pensador parece ser o hino daqueles que enfrentam, além das dificuldades naturais, as que também são impostas pela falta de acessibilidade nas ruas. Em Porto Alegre, considerada uma das cidades mais acessíveis aos portadores de deficiência no Brasil, a situação ainda está longe de ser a ideal. Basta andar pelas ruas dos bairros da Zona Sul, por exemplo, para ver que faltam sinaleiras apropriadas e melhor conservação nas calçadas, dois requisitos básicos para que uma pessoa com deficiência (PCD) possa ter uma vida normal.
Vitória Bernardes, a moça da foto, tem 27 anos e uma determinação invejável. Ela é psicóloga, está namorando, trabalha no Centro de Porto Alegre e, sim, ela tem tetraplegia. Ou seja, uma paralisia que afeta a todas as quatro extremidades do seu corpo. Vitória foi personagem de uma situação lamentável no ano passado, fato que foi amplamente divulgado na mídia portoalegrense. Ela tentou ver um filme em um cinema de Porto Alegre e não pôde. O cinema tinha um local destinado aos PCDs, mas ele ficava muito próximo à tela. Depois de conversar com o gerente do lugar diversas vezes e pedir alternativas para que ela pudesse ver o filme, Vitória desistiu e foi embora, junto com suas duas primas, que a acompanhavam. “Eu fiquei com vontade de me enfiar dentro de um buraco”, lembra.
O cinema não é o único local de difícil acesso aos portadores. Restaurantes, lojas, lancherias, salões, todos eles deviam, por lei, facilitar o acesso de PCDs, mas isso raramente acontece. Para Vitória, além de se tratar de uma questão de respeito aos portadores de deficiência física, trata-se também de garantir o direito de cidadão e de consumidor àqueles que desejam usufruir de produtos e serviços. “Eu quero o direito de simplesmente comprar um serviço e usufruir dele, e isso me é tirado. E daí tu te perguntas: qual o nosso lugar dentro da sociedade?”, finaliza.
Longe de este ser um caso isolado, ser portador de deficiência é complicado para todos. Dilceu Silva, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Condepa), também já sofreu pela falta de acessibilidade, mas ele teve de enfrentar os problemas nas ruas. “Por uma calçada não ser acessível, eu fui tentar transpor ela, não consegui e tive uma lesão”, lembra. Para Dilceu, o caminho é conscientizar a população através de campanhas. “Essa é uma questão que tem que ser discutida no próprio bairro, na casa, no vizinho, não pode ser só na área de governo”.
Através da implantação do projeto “Minha Calçada: eu curto, eu cuido”, a prefeitura vem se esforçando para melhorar a trafegabilidade dos PCDs na área central da capital. O secretário Paulo Brum, da Secretaria Municipal de Acessibilidade e Inclusão Social (Smacis), lembra que investimentos já foram feitos na Zona Sul, mas que este projeto também chegará à região. “A Zona Sul será contemplada em uma etapa posterior, o que não impediu ações pontuais, como execução de rebaixos no ‘centrinho’ de Belém Velho e em cruzamentos das principais avenidas”, salienta.

Ser portador de deficiência física não deveria, em circunstância alguma, privar uma pessoa de ser cidadã, de ir e vir. Mas não é porque as dificuldades são maiores, que a felicidade é menor. Com um sorriso no rosto, Vitória terminou a entrevista exaltando a todos aqueles que vencem as dificuldades da falta de acessibilidade. “Eu acho que todo mundo que conseguir enfrentar todas essas dificuldades e sair de casa vai estar ajudando a sociedade a se tornar mais acessível”, finaliza.