Esses dias me perguntaram: “Por onde é que tu anda guria?”. Respondi prontamente com um sorriso no rosto: “Voltei pro Portinho”. Para mim, Porto Alegre é isso. É no diminutivo, mas não é pequena, é enorme. É de carinho, de abraço, de afago. É passear em Ipanema com um fim de tarde lindo e um pôr-do-sol indescritível. É ver apresentações culturais das mais diferentes no Brique, dar uma volta na Redenção, ir no Gasômetro, passar no shopping à noite, curtir um filme e ir para casa com a sensação de que eu visitei um grande amigo. “Fui na casa do Portinho”. E que belo anfitrião é esse! Porto Alegre é do Laçador, do gaúcho cheio de personalidade. É de todos os que a acolhem e a querem bem.
Mas o Portinho tem o outro lado também, e nós não podemos esquecê-lo. O lado que eu conheci quando nasci, o lado mais pobre, o que fica a margem e é esquecido. O lado da Dona Georgina da foto. Mulher guerreira que veio para cá muito nova e já criou mais de cem crianças deixadas de lado pelos pais e pelo sistema. Ela luta dia e noite para dar comida, saúde e educação para os seus “filhos”. Hoje, Dona Georgina cuida em sua casa e com a ajuda de sua família mais de sessenta crianças durante o dia. É muito? Semana passada mais três se inscreveram para os cuidados. Esse lado de Porto Alegre, não dá pra esquecer. É o lado da solidariedade, da luta diária pela subsistência. Talvez seja a herança dos tempos difíceis pelos quais passaram os açorianos que aqui chegaram. Longe do Centro do Brasil, eles fizeram da vontade o maior artifício para o crescimento da cidade. E quem sabe daí vem essa força.

Não sei. Sei que já morei em Ijuí, Santa Rosa, Paris, mas é só no Portinho que eu me sinto assim. Nenhuma outra cidade me abraça como Porto Alegre. Não conheço nenhuma outra cidade que tenha tanto orgulho de suas raízes, de sua história e do seu povo. Fica aqui o meu muito obrigada e de toda a redação da Meu Bairro a essa cidade de gente aguerrida e lutadora. Obrigada, Porto Alegre.
Letícia Mellos, Editora Meu Bairro.