Mais de um século de reivindicações feministas no Dia Internacional da Mulher e ainda é difícil para muita gente compreender o significado desta data e as reivindicações das mulheres.
Os papeis sociais são construídos culturalmente e colocam a mulher numa posição de subordinação em relação ao homem. É visível e é aparente nas relações sociais, mas os dados deixam ainda mais claro. De acordo com a ONU, 7 e m cada 10 mulheres no mundo já foram violentadas em algum momento da vida, verbalmente, ou fisicamente. Trinta e cinco por cento de todos os assassinatos de mulheres no mundo são cometidos por um parceiro.
Além da violência, mulheres também recebem salário menor que os homens para desempenhar as mesmas funções. Difícil avançar quando figuras públicas, como o deputado Jair Bolsonaro, defendem abertamente o salário menor para mulheres.
Entregar rosas, como tanto se fez neste domingo e nos dias anteriores a eles, é reforçar a distinção cultural que coloca a mulher como o sexo frágil, um ser “delicado” e ignorar o quanto precisamos avançar enquanto sociedade para construir relações mais justas e iguais entre homens e mulheres.
Governo Dilma: insatisfação e democracia
– Com pronunciamento em rede aberta de TV, a presidente Dilma defendeu no Dia da Mulher as políticas de austeridade, que caracterizou como “sacríficos temporários” que toda a população terá que fazer. Nada de novo; mais do mesmo do que já vem se falando desde que foram anunciados os cortes mensais de cerca de R$ 1,9 bilhão e que afetam diretamente áreas como a educação, agricultura, obras do PAC. etc. A questão agora é como será a reação popular.
– Cortes nos recursos públicos, contas mais caras, são mesmo de causar insatisfação, especialmente quando vem a público o rombo aos cofres públicos na operação Lava-Jato. Falta uma reação madura, de cobrança do governo.
– A cobrança precisa ser contra o desvio de recursos pela corrupção, mas também, e principalmente, deve pautar a dívida pública, que só em 2014 levou 45% do orçamento. É quase metade do dinheiro da nação para pagar juros aos banqueiros.
– No senso comum, virou corriqueiro falar de impeachment. O clima é de disputa eleitoral pouco politizada. Na insatisfação, a chamada mais fácil parece ser: “Fora Dilma”. O que parece não ser levado em questão é que o governo não é feito apenas por uma pessoa e que, se houvesse mesmo a saída de Dilma, quem assumiria seria Michel Temer do PMDB, partido tão envolvido na Operação Lava Jato quanto o PT. E não resolve a situação.
– Está faltando uma reação séria, que cobre do governo o combate à corrupção e a punição aos envolvidos, mas também reivindique uma política econômica que tenha como prioridade as necessidades de investimento no que interessa ao povo, e não os lucros dos banqueiros.
– Os movimentos sociais tradicionais estão se articulando para um ato classista contra os ataques de Dilma e de Sartori, no caso do RS, no dia 12 de março. Para o dia 15, estão sendo marcadas manifestações pró-impeachment. São coisas absolutamente diferentes e não podem ser confundidas.
– A festividade pró-impeachment tenta anular as críticas e reivindicações que respeitam as esferas democráticas para incorporá-las ao seu despolitizado “Fora Dilma”, que tem tom de birra infantil. “Não gosto da presidenta e não quero mais”, nada muito diferente das reações após o resultado da última eleição. O debate não é esse e não pode ser desvirtuado. Corre-se o risco de que setores à esquerda tenha que defender Dilma de um (im)provável impeachment para assegurar a democracia e, com isso, não se mobilizem para barrar os ataques do governo.