Como me explicaram aqui em Nova York, brasuca é a criatura que sai do Brasil, mas o Brasil não sai dela. Ou seja, é a pessoa que mora aqui há anos mas continua vivendo como se estivesse no Brasil: assiste Globo, só fala português, não aprende inglês e segue com a mesma visão de mundo que tinha antes. Em outras palavras, é o cara que vem aqui pela grana, e não pela cultura, aprendizado, experiência, etc. E, como já percebi, brasucas tem aos montes por aqui…
Mas às vezes é inevitável ser um pouco “brasuca”. Eu já passei por isso algumas vezes. Na última semana, fiz um curso de três dias em Columbia sobre Jornalismo em Zona de Risco. Eu era o único brasileiro lá, no meio de americanos, canadenses, australianos, italianos, mexicanos, ingleses, israelenses, etc. O curso foi sensacional, a maioria dos participantes trabalha como correspondente internacional ou atua em zonas de conflito em seus próprios países. Porém, no jantar de encerramento, na véspera de aniversário, os estereótipos de cada culturais foram lançados à mesa. Foi feito um joguinho de palavras que começou com a seguinte pergunta: qual é a personalidade mais conhecida de cada país? Estados Unidos – Madona e Barack Obama; Itália – Berlusconi; Inglaterra – Beckham e Príncipe Charles, etc. Fiquei curioso para saber se a teoria de que os Ronaldinhos, Neymar, Lula, André Silva se tornaram nos últimos anos a personalidade brasileira mais conhecida no exterior era verdadeira ou não. A resposta: não. Todos na mesa responderam a mesma coisa: “Pelé!”.
Depois a pergunta que mais me chamou a atenção: qual o produto de cada país mais conhecido internacionalmente? Itália – pizza e spagueti; Estados Unidos – fast food e cinema; etc. Sobre o Brasil, imaginei que diriam algo como “futebol” ou “carnaval” ou “feijoada”. Que nada. Chegou na minha vez, todos me olharam até que alguém respondeu “depilação brasileira”. E todos “ahhhhh, claro, depilação brasileira!”. E eu fiquei com cara de quem desmaiou e acordou sem saber o que está acontecendo: depilação brasileira??? Que p…. é essa?????????? E foi então que descobri que tem uma depilação, que é conhecida como depilação brasileira, que é feita nas partes íntimas das mulheres e que é aclamada no mundo inteiro. Tu vês… vivendo e aprendendo….
Mas, outra vez em que vive como um autêntico brasuca foi na noite de quarta-feira quando fui ao Smithfield, o bar que passa os jogos do Grêmio, para assistir ao jogo contra o Corinthians pela Copa do Brasil. A situação era essa: uns 15 gremistas ocupando umas três mesas juntamente com uns 5 corintianos, vendo esse jogo em duas TVs – junto com uns dez estrangeiros – japoneses, europeus e americanos. Meia dúzia de flamenguista assistindo ao jogo Flamengo e Botafogo em outra; e um são-paulino isolado assistindo ao jogo do São Paulo pela Sul-Americana no fundo do bar. Ainda tinha jogos de futebol americano e basquete em outras TVs, com a americanada. Sei que o que fiz foi idiota, mas valeu as lágrimas de tanto rir: começamos a ensinar as expressões futebolísticas para os gringos. E não tinha como não rir ao ouvir um japonês ou um cara da Estônia enrolando a língua para dizer: p… que p….., toma no c., vai se f….., c…., po… do ca….., é o Grêmio p….!, etc. Mas a graça é que eles aprendiam e depois diziam o negócio na hora errada. Volta e meia eu olhava para uma estoniana ou para um japonês e eles me diziam algo como “p…. do ca….. vai se f…”. Não tinha como não rir… Coisas de brasucas…
No final das contas, tudo vale a pena quando a alma não é pequena e se está aqui. Agora tenho que catar uma fantasia para a festa do Halloween, porque você não pode entrar em lugar nenhum no dia 31 de outubro sem estar fantasiado… Portanto, momento de importantes definições na minha vida brasuca-americana! – que tal uma bo……. depilada?