Estamos cada vez mais em queda livre e vertiginosa. Sambando por aí, o brasileiro mal descansou do Carnaval e pegou de volta sua mais recente utopia: ver sangrar de si mesmo uma pátria enquadrada em valores confusos. Não estou mais entendendo muita coisa. Pareço estar em uma torre de Babel onde são faladas todas as línguas sem significado.
Tudo me parece um contra-argumento sem argumento nenhum. Gritarias à parte, quero entender esse mundo fraturado, sem tipoia nem analgésico. Andando pelas redes de convívio virtual, sim, muitos não experimentam falar pessoalmente sobre nada mais polêmico, vejo uma infindável vontade de xingar e retroceder, sem discussões verdadeiramente convincentes.
Não conseguimos mais nos ver; de espelhos quebrados, as sociedades do mundo romperam as carnes, uma fratura exposta em que, de humano, só se vê o sangue. O canal eletrônico grita e o povo nas ruas anda numa delicada apatia, mas quando provocado, repete o que viu no último post do seu amigo mais engajado, aquele que nunca saiu de sua linha tênue da verdade programada, pronta a ser dita.
Sim, sei que cometo o mesmo erro de todo falastrão: falo, metaforizo mal e porcamente, abatido diante de tanta baboseira. E enquanto isso, além de panelaços e pedidos de impeachment, o antepasto continua a ser servido nas grandes mesas executivas em todas as partes do planeta.
Somos uma massa óssea incapaz de se regenerar assim do modo em que estamos. É óbvio que estamos mal, assim como é óbvio que estamos doentes socialmente: são tempos difíceis. Entretanto, a tentativa de fazer da nossa discussão política alguns capítulos de novela não nos revela de fato. PT X PSDB??? É isso que estão discutindo??? Dilma X Aécio???
Reforma política? Reforma agrária? Sistema prisional? Educação? Saúde? Somos patéticos em acreditar que um ou outro resolveriam os problemas que temos há décadas. Personificar nossa incapacidade de transformação social e política é não ter o mínimo de conhecimento do estágio em que estamos como país. A algazarra, o escarcéu, o panelaço é antes de tudo para que se fortaleçam nosso poder democrático e cidadão. Dilma está eleita e representa, sim, queiram ou não; a oposição tem que dizer a que veio, se quiser fazer oposição…
O Estado Islâmico degola e exibe suas atrocidades; um filho de casal gay é espancado e morre em São Paulo; no Rio de Janeiro, os assaltos invadem os shoppings e se espalham nos sinais de trânsito; nossas muletas disfarçam nosso andar trôpego.
É, melhor seria se o planeta estivesse em estágio avançado do Mal de Alzheimer, assim esqueceria de si próprio, não levando tanto mal para a eternidade.