A avó falava para ela: “não se preocupe, nossa família é de gente grande, de ossatura larga”, e os tios complementavam que ela não precisava se preocupar que os homens gostavam de carne sobre os ossos. Ela tinha doze anos e não entendia muito o que queriam dizer, bem… não entendia, era mentira. Já tinha menstruado e seus sonhos já eram bem explícitos, nesse ponto ela estava tranquila. Não era que não entendia o que os seus parentes falavam, era que ela não concordava. Ou melhor, quando os parentes afirmavam tais coisas, tinha vontade de gritar que eles eram cegos, porque o mundo amava as magras. E também que eles eram hipócritas, já que todos os homens olhavam para o corpo da prima universitária, magrinha, naquela calça apertada ou naquele indefectível tubinho preto! Que raiva! Ah! E as mulheres da família exclamavam que a querida prima era tão elegante! E ela boa aluna, boa amiga, boa pessoa, mas era gorda!!
Eu sou gorda!!
Tá bom, podem não me achar bonita, podem os garotos não olharem para mim, podem não me escolher para o time de queimado, mas chega de me darem lições de moral. Não basta não existir roupa para uma adolescente se vestir que esteja com sobrepeso? Não basta me tratarem na escola como se fosse a maior complexada do mundo? Não basta de me chamar de simpática e para as outras garotas magras chamarem de lindas? Não quero ser simpática, nem preciso ser linda. Quem tem uns quilos a mais não tem nenhum gene que promova a simpatia ou a comicidade. E, por favor, não me olhem como eu tivesse um desvio de caráter que me fez comer três frangos e mais uma feijoada com dois “big macs”, porque EU NÃO FAÇO ISSO. Talvez algumas vezes tenha exagerado, minhas colegas também fazem isso, mas eu engordo. Eu engordo até com ar. Faço dieta, emagreço, mas se como a mesma quantidade que as outras, engordo. E pior, tenho que ouvir a pediatra, aquela debochada, falando, “cuidado, desse jeito quanto você vai pesar quando entrar na faculdade?” Ah aquela vaca! Ops, desculpa , mas estou revoltada. Falam que a obesidade é uma doença e olha que nem obesa sou, tecnicamente tenho um sobrepeso, mas na minha escola é como se eu tivesse 200 quilos. Mas se é uma doença, tenho direito à dignidade dos doentes. A dignidade, respeito e apoio. Tá em falta no meu colégio, principalmente, respeito.
Todo mundo que conheço e ouço são princesas na vida e eu…ops, de novo tô copiando Fernando Pessoa. Poema em linha reta, não é à toa que gostei desse.
Pior, sou gordinha e inteligente (leia-se boa aluna) parece que isso me denigre mais ainda. Como ser boa aluna fosse uma compensação de ser gordinha. Não tem saída, sou gordinha confesso, portanto, um bicho errado por definição, mas eu só queria ter o direito de ser diferente.
Ser diferente, respeitada, apoiada no emagrecimento e não ter que ouvir diminutivos nem olhares de piedade.
Portanto, irei rogar uma praga: que os adultos fiquem velhos e caídos e minhas colegas engordem e que seus maridos tenham barriga de chopp e soltem puuunnnss! E eu, vou tentar emagrecer, mas me recuso a ser magra, serei linda e gostosa…