Desde pequena ganhamos bonecas e ouvimos que há forma de comer, falar e se comportar.
Colocam-nos dúvidas sobre nossa capacidade intelectual e profissional, porem nunca sobre nossa obrigatoriedade em gerar filhos. Fomos feitas para isso: ser mãe!
Mais do que uma capacidade, a maternidade é, em grande parte das vezes, uma exigência social. Frases como “nossa, acho estranho uma mulher não querer ter filhos” ou “que tipo de mulher é essa que não quer ser mãe?!” ainda são comuns. Mas, quando a mulher tem deficiência, a cobrança da maternidade existe?
Não. A resposta é não!
Ao adquirir deficiência perdi grande parte das minhas identidades. Perdi (perdi?) a capacidade de ser e me sentir atraente. Duvidei se conseguiria exercer minha autonomia e aquilo que pertence a qualquer mulher me foi tirado: o “direito” de gerar uma vida.
É preciso salientar que esta sentença não era por razões fisiológicas, mas pelo fato de eu não poder trocar fraldas, dar banho… Não ser apta a exercer tarefas reconhecidas socialmente como pertencentes às mulheres.
Felizmente cresci com modelos de mulheres fortes e vendo as infinitas possibilidades que meu gênero me propiciava. Ao decorrer do tempo fui saindo do piloto automático e parti na busca de novos olhares, novas identidades. A minha identidade!
Nesse processo se passaram anos (sim, foram anos) até que eu entendesse as minhas formas de estar e ser.
Terminei o Ensino Médio, entrei e terminei a faculdade, ingressei no mercado de trabalho… me senti novamente mulher!
Foi neste processo que reconstruí minha autoestima e entendi que os limites, em grande parte, também se davam por mim (já que felizmente tive oportunidades e suporte para me desenvolver).
Aos 26 anos de idade, quase 10 anos após o acidente, conheci um grande companheiro e o desejo de construir uma família surgiu. Mas será que eu daria conta? Antes mesmo de refletir profundamente sobre isso, engravidei…
Ao buscar informações relacionando deficiência e maternidade, li histórias de mulheres que foram conduzidas/induzidas/sugeridas a abortar pelos próprios médicos (que ao se depararem com novas situações, sentenciam suas “verdades” como inquestionáveis e renunciam a ética profissional).
Meu maior medo não era sobre minha capacidade de maternar, mas sim sobre o que pensariam sobre a nossa decisão de ter a coisinha mais linda e importante de nossas vidas.
Será que maternidade ainda precisa ser vista assim, como uma imposição? Para mim não! Decidimos tê-la porque da mesma forma que não aceitava a obrigatoriedade de ser mãe, diante do meu desejo de ser, não aceitaria o não imposto a nós, mulheres com deficiência.
Felizmente, essa história continua! A única coisa que posso adiantar é que neste 14 de fevereiro nossa pequena completará seus 02 anos de vida e cor, muita cor!