Depois de muitos dias de protestos espalhados no país, o assunto que eu trago hoje é bem local. As inúmeras reivindicações que ecoaram pela semana têm em comum o interesse público. E esse interesse tem sido negligenciado bem pertinho de nós, moradores da Zona Sul. Trago aqui dois exemplos de como ainda é difícil compatibilizar o interesses econômicos com a preservação, seja do meio ambiente, seja de nossa memória.
No primeiro caso, trata-se de um terreno particular, situado na Rua Potiguara, Vila Assunção. Sabe-se que, hoje em dia, em nosso país, a propriedade particular sofre algumas limitações em relação ao seu uso. São, por exemplo, as regras de edificação, que determinam a altura e a ocupação do terreno, dependendo da zona da cidade onde se dará a construção. Outra limitação se refere à cobertura vegetal do terreno. Muitas vezes, no local existem espécies vegetais que devem ser preservadas, tanto pela diversidade da flora, quanto pela fauna que dela depende.
No caso da Vila Assunção, por conta de uma tentativa de aquisição do referido terreno em 2005, foi feito um parecer técnico com vistas à possibilidade de construção no local. No laudo preliminar foram feitas algumas considerações e recomendações. Primeiramente, foi constatada área densamente povoada por espécies vegetais nativas, além de paineiras, jacarandá-branco e figueiras (em número de seis), sendo muito significativo como abrigo para avifauna presente. É bom lembrar que as figueiras são imunes ao corte por lei (Lei Estadual 9.519/93). Ou seja, a construção no local era extremamente limitada.
A surpresa foi que uma imobiliária recentemente vendeu o terreno e, possivelmente, fará lá um condomínio. Será que irão transplantar seis figueiras (procedimento difícil e caro) e harmonizar o projeto às características da área? Alguns moradores já questionam o negócio, e veem que o bairro está sendo completamente descaracterizado pela ganância imobiliária.
O segundo caso é na Vila Conceição. Na entrada do bairro, via Av. Wenceslau Escobar, existe uma ponte de pedra (situada na Rua Picasso). Essa ponte é resquício do caminho que a Ferrovia do Riacho fazia no início da urbanização da cidade. Foi construída na década de 1940 e, há cerca de dez anos, algumas pessoas da comunidade vêm lutando pelo reconhecimento dessa construção como patrimônio histórico da Zona Sul.
Recentemente, um terreno contíguo começou a ser cercado e há relatos que o vão abaixo da ponte (que compõe a ambienciência, junto com a vegetação) encontra-se totalmente bloqueado por entulhos e lixo e, de certa forma, comprometida pela construção do muro. A prefeitura já foi acionada, através do Centro Administrativo Regional (CAR-Sul), para identificar o problema e possibilitar uma solução protetiva para essa construção histórica.
Devemos estar atentos e unidos como comunidade, em busca do interesse comum. E para sua defesa, caminhos administrativos e judiciais existem. Mas, antes, devemos nos educar para a cidadania e para a convivência coletiva. E as últimas semanas vêm nos mostrando que assim é possível transformar o país.