Milha filha recém completou seus dois anos de idade e me ensinou mais do que meus 27 anos anteriores a sua existência.
Ter um serzinho que depende de ti te estimula e obriga a superar limites. Do momento em que peguei minha filha grande parte dos meus medos se esvaíram. Éramos nós duas, precisando aprender uma com a outra a linda arte de ser mãe e filha.
Meus movimentos de braço são limitados e os de mão ausentes, mas pegá-la no colo se tornou tão natural quanto respirar. Amamentá-la foi um dos meios encontrados para nutri-la e lhe passar todo aconchego que poderia lhe oferecer. No começo, como para grande parte das mulheres, amamentar não foi tarefa fácil. Muitas sugestões, opiniões e conselhos… todos em vão, pois a única coisa que precisávamos era uma da outra.
Neste processo tive uma importante ajuda, meu marido e pai da Lara. Ouvi algumas histórias de mães que, com deficiências semelhantes a minha, não puderam amamentar devido ao “trabalho” que isto gerava. Ao ouvir estas histórias é preciso falar que a deficiência, em alguns casos, necessita sim de apoio físico. Como uma mãe que necessita de suporte para lidar com as demandas de uma nova vida, a mulher com deficiência necessita de um suporte a mais. Muitos deles são resultados de uma sociedade incapaz de olhar às necessidades de todos. Desde o momento de sair às ruas a se transferir para uma maca para exames, nada é pensado para dar autonomia a nós, mulheres/pessoas com deficiência. Muitas de nós que poderiam exercer a maternidade sozinha, sem suporte, só não podem devido à incapacidade do Estado.
Como diz a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que foi incorporada à legislação brasileira em 2008, ”a deficiência resulta da interação entre pessoas com deficiência e as barreiras devidas às atitudes e ao ambiente que impedem a plena e efetiva participação dessas pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoas”. Ou seja, o que tornam as pessoas com “mais deficiência” é a interação delas com o meio em que estão inseridas. Será que, se não dependêssemos de tanta ajuda e não naturalizássemos isto, não teríamos mais voz para impor nossos desejos, como, por exemplo, amamentar nossos filhos?
Mais do que agradecer por ter uma estrutura que me permite exercer a maternidade de forma mais “tranquila”, preciso questionar o grande desrespeito a legislação e às pessoas que são impedidas de desfrutarem integralmente deste momento lindo de suas vidas.
Lara, obrigada por me ensinar que o amor é capaz de ensinar muito mais que a dor, por me despertar questionamentos e por me provocar a batalhar por mudanças!
A Vitoria é um exemplo de superação e vontade de viver!!!! Sempre quando vejo ela empenhada nas causas sociais e levando uma vida digna e superando todos os obstáculos eu me emociono sempre !!!!! Um beijo grande querida !!!!! A tua Lara é maravilhosa!!!!!