Desde que comecei a me interessar por literatura, lá na adolescência, apaixonei-me pelos livros de viagens. São tantos e tão variados os temas, as viagens, a duração do tempo na estrada, que obviamente, quando surgiu a primeira luz de idéia de ir para Nova York eu já tinha essa ambição. Porém, enquanto não tenho o meu livro, fico rememorando alguns que já li, e procurando outros para ler. E, como disse, os autores, enfoques, linguagens, nacionalidades são os mais variados. Cito alguns, que também podem ficar como dica para o leitor.
O primeiro, obviamente, é o clássico “On The Road”, do Jack Kerouac, e os outros autores beats. Enfim, para quem não conhece, Kerouac é um beat (a história do movimento, do termo, as biografias dos escritores estão muito bem contatas no livro “Geração Beat”, do Claudio Willer). Mas, para ir um pouco além, indico também o já citado nesse espaço (e comentado) “Fé na Estrada”, do Dodô Azevedo.
Vou tentar fugir um pouco do óbvio, porque, logicamente quando se fala em literatura de viagem me vem à mente autores beats, malditos, malvistos, da contracultura, como Bukowski, Pedro Juan Gutierrez, Jack London e até mesmo o Hunter Thompson, tendo em vista que o “Medo e delírio em Las Vegas” é uma narrativa de viagem.
Saindo um pouco desse estilo (pelo menos por hoje), lembro de bons livros de viagem do Erico Verissimo. “Gato preto em campo de neve”, então, é o meu favorito. Resulta de uma viagem feita pelo escritor gaúcho aos Estados Unidos (de navio), a convite do governo norte-americano, para Erico ficar três meses lá, com tudo pago, ministrando palestras e fazendo ações diplomáticas. Porém, a narrativa é envolvente e as reflexões são sensacionais, principalmente com a presença do personagem do folclore gaúcho Pedro Malazartes, alter-ego do escritor. Além desse, têm “A volta do gato preto”, “México”, “Israel em abril” e possivelmente mais algum outro que não lembro agora, todos de Erico Verissimo.
Também há os mais jornalísticos, como o pai de todos, “Os sertões”, do Euclides da Cunha, que se surpreende ao chegar a Canudos e se deparar com um massacre, e não com uma guerra; “Hiroshima”, do John Hersey, em que ele vai para o Japão para resgatar o absurdo da bomba atômica no fim da Segunda Guerra Mundial; “O gosto da guerra”, do Zé Hamilton Ribeiro, sobre a guerra do Vietnã; e muitos outros.
Enfim, a narrativa de viagem nasce praticamente junto com a própria narrativa. O quê é a bíblia (narrativa mais lida pela população mundial)? Não descarto a narrativa bíblica como uma grande e geniosa ficção, (esse já é outro debate), mas entrando no campo ficcional, o próprio Dom Quixote, de Cervantes, na minha opinião, é a melhor de todas as narrativas de viagens (ficcionais e não ficcionais – incluindo aí a narrativa bíblica). E, obviamente, temos toda a literatura da filosofia grega, os anteriores a Cristo, etc, etc, etc.
É uma gama infinita de autores e obras, que não cabe nesse espaço. Entretanto, eu e muitos outros “ninguéns”, vamos tentando, todos os dias, ir além das viagens geográficas para tentarmos chegar no dedo minguinho desses autores em viagens mais profundas. Acabou o tempo e acabou o espaço. Hasta!