Este mês o Centro Cultural Zona Sul novamente está EM PAUTA no Portal Meu Bairro. Os prédios agora abrigam a sede do Centro Comunitário de Desenvolvimento da Tristeza, Pedra Redonda, Vilas Conceição e Assunção (CCD), a sede da 1ª Região Tradicionalista, do MTG do Rio Grande do Sul, a sede da Associação dos Artesãos da Feira de Artesanato da Tristeza (AAFAT) e também a sede da Associação dos Escultores do Estado do Rio Grande do Sul (AEERGS).
Se você não lembra de toda a história, pode conferir aqui mesmo no Portal nos links no fim da matéria. Mas, em suma, o Centro Cultural Zona Sul é um sonho antigo da comunidade que cuidou durante anos do antigo Artesanato Guarisse, que estava abandonado. De propriedade do Estado, a ideia é regularizar toda a situação dos prédios, que ainda tem pendências, e transformá-lo em um polo de cultura e diversão na zona Sul. Nos últimos meses grandes passos tem sido dados. Um deles é a aproximação de uma grande estudiosa da história e da arte de Arthur Guarisse: Marcia Morales Salis.
Arthur Guarisse é um visionário. No auge da sua arte, trazia a Porto Alegre presidentes e artistas do mundo todo que se deliciavam com suas obras sempre cheias de romantismo e beleza. Agora o Projeto Guarisse, idealizado e mantido pela pesquisadora, quer preservar a obra de um dos maiores artistas que Porto Alegre já viu, através da pesquisa da Marcia e das obras que ela está curando.
Marcia detém os direitos de uso do acervo da família Guarisse e é curadora do projeto em exposição. Ela lembra que o projeto de pesquisa visa contribuir para a constituição de um Museu Comunitário, mas também é parte de uma tese de doutorado em andamento sobre artesanato e empreendedorismo.
Meu Bairro – Arthur Guarisse é um dos maiores artistas que já viveu na zona Sul, mas poucos o conhecessem. De onde veio a tua vontade de estudar a sua obra?
Marcia Morales – Apesar do título “Rei do Artesanato”, que lhe foi conferido no auge do Artesanato Guarisse, o senhor Arthur Guarisse pode ser considerado um grande apaixonado pelas artes e o artesanato, as antiguidades e os negócios. Foi um empreendedor pioneiro que começou a construir seus próprios móveis e lustres nos fundos de casa, para decorar a residência da família, na Rua Mario Totta. Assim que os amigos começaram a visitar a nova moradia da família Guarisse, os pedidos por lustres e luminárias aumentaram até que a atividade tornou-se o negócio da família. Este crescimento possibilitou a compra de outras propriedades, sendo que em uma delas senhor Arthur deu início à construção da fábrica de artesanatos na década de 1970. No local, eram confeccionados lustres, luminárias, cerâmicas, vidros e móveis em couro, inspirados nos originais europeus (franceses e italianos, principalmente) e comercializados pelo pais afora. Na antiga fábrica trabalharam quase 300 empregados desenhando, criando e confeccionando peças artesanalmente em diversas técnicas, em cada um dos quatro prédios que hoje compõem o Centro Cultural Zona Sul.
MB – Qual o caminho que tu percorreu para a construção do memorial?
MM – O “Projeto Guarisse” visa contribuir com a constituição de um Museu Comunitário – de acordo com as normas do IBRAM. Nosso objetivo é registrar junto à comunidade os acontecimentos vinculados à existência da fábrica de artesanatos “Artesanato Guarisse” na zona Sul de Porto Alegre, entre as décadas de 1970 e 1990, e promover uma exposição interdisciplinar permanente que possa ser visitada por todos, e também oportunizar atividades museológicas e o desenvolvimento de pesquisas escolares e acadêmicas. Junto a isto, pretendemos transformar em livro e filme o material coletado na pesquisa, com os registros que direta ou indiretamente estejam relacionados às diversas fases do empreendimento que pode ser considerado um lugar de trabalho e de grandes recepções que contribuiu para o desenvolvimento cultural na zona sul da capital gaúcha. Esses registros são compilados desde o ano passado e se constituem basicamente a partir de documentos e depoimentos do próprio Arthur Guarisse e seus familiares, dos vizinhos, dos trabalhadores que por lá passaram, dos jornalistas e fotógrafos, dos consumidores e fornecedores, enfim, indivíduos ou grupos de profissionais ou personagens que tiveram algum envolvimento com o Artesanato Guarisse. Hoje em dia, pelo projeto, já recebemos doações de objetos, móveis e fotografias. Além disso, para a realização deste trabalho, saliento a importância do conteúdo das reportagens e das colunas sociais encontradas nos principais jornais e revistas impressos da época.
MB – Em que pé anda o projeto nesse momento?
MM – O Projeto Guarisse está em andamento, ainda em fase de pesquisa e entrevistas. Na medida em que avançamos, o que vai sendo descoberto é exposto em uma das salas da AEERGS, quando acontecem eventos abertos e gratuitos. Graças à sensibilidade e à generosidade de Vinicius Vieira, Adriana Xaplin e os demais escultores membros desta associação, e com o apoio das entidades presentes no local, temos tido condições de prosseguir com sucesso, apesar da necessidade de reformas urgentes nas instalações que utilizamos.
MB – Como a comunidade pode ajudar para o seu desenvolvimento e manutenção?
MM – A comunidade pode ajudar ao oferecer depoimentos, fotos, reportagens, ou doar objetos adquiridos no Antigo Artesanato Guarisse. Pode ajudar ao participar dos eventos, visitar a exposição e conhecer detalhes da história do bairro Tristeza e da Sona sul da capital gaúcha e que se estende à cidade de Gramado, às capitais carioca e paulista – lugares em que também funcionaram outras lojas do Artesanato Guarisse. Mas, também, quem desejar pode participar como apoiador ou colaborador deste importante projeto na atual fase em que se encontra. (Para isso, é só entrar em contato através do e-mail marcia_ms@msn.com)
MB – O que tu precisa de apoio do poder público nesse momento?
MM – Neste momento, é o Governo do Estado do Rio Grande do Sul que pode nos auxiliar com a assinatura de um convênio com as entidades que ali já trabalham pela comunidade e pela cultura, com o apoio da Primeira Região Tradicionalista que já está conveniada. No momento em que o convênio legalizar o uso do imóvel – propriedade do Estado porque foi dado em pagamento após a falência do empreendimento na década de 1990 -, será possível projetar e executar reformas, participar de editais ou ir em busca de patrocínio para constituir o Museu Comunitário (ou Memorial da Zona Sul, ou Museu do Artesanato Guarisse). Ao finalizar, gostaria de agradecer a oportunidade de divulgar este importante trabalho e de parabenizar o pessoal do Meu Bairro por voltar a nos informar sobre os principais acontecimentos e ações desenvolvidas junto à comunidade da zona sul de Porto Alegre. Recebam meu abraço e o desejo de sucesso a todos nós!
Nós que agradecemos, Marcia.
AAFAT Associação dos Artesãos da Feira de Artesanato da Tristeza
A AAFAT parabeniza e apoia a curadora Marcia Morales pelo trabalho e dedicação com que resgata a rica história de vida desse grande artista e que através de seus estudos vem recuperando e valorizando também a história da Zona Sul de Porto Alegre ao mesmo tempo que resgata a importância do artesanato como trabalho cultural que dá identidade à todos os envolvidos, artesão, apreciadores e toda a comunidade que os acolhe. Vera Monteiro Vice-Presidente AAFAT Associação dos Artesãos da Feira de Artesanato da Tristeza
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