O pensamento mediano quer reduzir tudo, baseado nestes programetes de TV, em que os pregadores (opa, apresentadores) fanáticos em púlpitos querem apenas obter maiores níveis de audiência. A imediatez deste pensamento recorre a outras referências, porém, aquelas que julga sofisticadas, leituras rápidas de Facebook, os filmes ratedbrides.com B de mocinho e bandido, à moda Mercenários, ou Duro de Matar ou as leituras de algumas fontes que confirmam suas opiniões. Bandido é bandido, mocinho é mocinho, portanto, pouco importam as chacinas indígenas, retratadas em obras famosas, como “Enterrem Meu Coração na Curva de um Rio”, afinal “Custer era aquele cara que defendeu o avanço da civilização branca”, o raciocínio deve ser simples, mediano, positivo. Reflexões sofisticadas? Dialéticas? Que nada, segundo este mesmo pensamento, elas é quem impedem a solução dos problemas no país (viva a argumentação dos pregadores de TV).
Bem, desculpem-me trazer alguns conceitos, recorram às fontes, caso não saibam o que vem a ser dialética. A Internet está para além do Facebook, como os livros, pode ser a fonte de absurdos, como também de informações relevantes, basta procurar (ou aprender a procurar, mais relevante do que simplesmente encontrar). Entender o mundo, refletir sobre ele é complicado, exige mais do que um compartilhamento ou um encontro para “matiada” com os “concordinos”. E a sociedade anterior, para os saudosistas, nunca foi melhor do que a atual, havia sim violências, havia sim aberrações, não sabem? Por que deixaram de estudar história? Bem, desculpem-me os medianos, história é uma disciplina que narra “datas e fatos”.
O mediano sabe acaso onde estão os intelectuais e qual a verdadeira influência deles na ordem social? Certamente, bem menos do que imaginam, no Congresso, quase a zero, nas seitas religiosas, bem menos. Por que, afinal, os consideram tão influentes? Mediano é incapaz de aceitar a organicidade da estrutura social. Em um bolo em que poucos pedaços são divididos, cabe aos competentes o maior, que importam os que perderam? O mundo é dos vitoriosos! Quem vende algum produto em testemunhais? Apenas vitoriosos, os fracassados merecem o castigo da exclusão e a sobreviverem com as migalhas. Um mercado competitivo é implacável, eliminam-se os perdedores , porém, eles são convencidos diariamente pelos mitos olimpianos (Olimpo era a montanha onde habitavam os deuses gregos) de que as migalhas do sucesso podem ser adquiridas como compensação de um status impossível.
Perder, nesta sociedade, é um horror. Não há palestras sobre os percalços para o sucesso, ídolos olimpianos sempre têm sucesso, e, caso tenham vivido momentos difíceis, eliminam do encontro as opções para uma tal ascensão. Fracassados têm uma locação especial, um nicho bem definido neste mundo. Talvez seja por isto que instituições de caridade tenham que se esmerar atrás de recursos. À margem da competitividade, os ditos “especiais” (e hoje é politicamente incorreto, mas, na verdade, são perdedores) vivem de migalhas. Claro, a nossa sociedade ainda mantém uma estratégia de humanidade, precisa compensar a voraz metodologia de conquista de mercado (a mesma que pode levar alguém a uma grave doença, “o problema é dele se tomou um refrigerante ou comeu um alimento causador de grave patologia, ele tem livre arbítrio”). E a estratégia, tão comportada, consiste nas parcas contribuições voluntárias, outras compulsórias, caso contrário, como suportar a insensibilidade para com as deficiências?
O pensamento mediano, porém, é assim, se apraz diante de paliativos e é incapaz (desnudaria o rei) de encontrar os motivos. Quando suficientemente comprovados, procura, não a tomada de consciência, e, sim, corromper o pensamento por meio de um silogismo (aliás, desculpem-me, se desconhecem o que vem a ser), o mal nunca nasce do bem, bandido é bandido, mocinho é mocinho, mesmo que este mesmo mocinho tenha articulado uma cena violenta para conquistar a opinião de legisladores em prol de um projeto que eliminará a liberdade de informação.
• a fonte para o termo Ídolo Olimpiano veio de MORIN, Edgar. Cultura de Massa no Século XX: Volume 1: Neurose. 9a edição.1997.