Estava em meu consultório em um intervalo de poucos minutos entre dois clientes , quando um velho amigo via Facebook comentou positivamente o último texto que eu havia postado no Portal, mas sabe como é, opinião de amigo, é opinião de amigo. Mas conto isto, para contextualizar a frase seguinte dita por este amigo.
…..Porque você não escreve sobre assédio moral, aquela p..ta está me infernizando no trabalho…
Eu já tinha conhecimento do que estava ocorrendo no trabalho dele, mas me impressionaram as frases seguintes que mostravam a raiva e a dor que ele sentia do que estava acontecendo. Minha fantasia era que se estivéssemos frente a frente, ele poderia descontar em mim e é isso exatamente o que acontece em muitas famílias; a dor que o assédio moral causa pode desembocar em comportamentos agressivos ou outros comportamentos destrutivos na intenção de derivar todo o stress sofrido no local que a maioria passa a maior parte do dia (não contamos as horas de sono neste caso) para outro contexto. Portanto, a importância deste tema para a saúde mental,vocês podem imaginar, é imensa.
Mas para evitar confusão,vamos definir o que seria assédio moral: Assédio moral é a exposição de pessoas a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização. Esta definição facilmente encontrada na Internet, é oriunda do direito trabalhista, eu só acrescentaria que o conceito de assédio moral, se aplicado ao ambiente escolar, chamamos de “bullying” ou,em família, de abuso psicológico. Podemos encontrar algumas diferenças em cada contexto, como, por exemplo, violência física na escola, o que no trabalho raramente acontece, e assim por diante, mas o que fica claro em todas as situações é o esmagamento emocional da pessoa.
Como quase tudo que eu comento, daria um livro para começar a falar sobre este assunto de forma mais profunda. Mas como não é esta a intenção neste texto, vou levantar uma reflexão para nosso início de conversa (meus textos são sempre um início de conversa, talvez como seja a psicoterapia, um eterno início de conversa com você mesmo). A reflexão em forma de pergunta é: o assediador tem consciência do que está causando a outra pessoa? É algo intencional e premeditado a ação deste? Isto é, ele tem noção do estrago que ele causa? Ou nos termos do meu amigo: por que filha da p..ta fazendo essa p..rra ?
Bem , tentando responder a pergunta do meu amigo, farei uma distinção preliminar.
Algumas pessoas machucam outras, porque isso lhes causa prazer, como num jogo que não lhes acarreta menor culpa ou arrependimento. Essas pessoas não sentem empatia pelas outras. Apenas jogam um jogo de dominação, humilhação e poder. De maneira geral, podemos categorizá-las de psicopatas (não confundir com psicóticos). Com elas, pouco há o que fazer, além do sábio conselho de se manter longe delas quando finalmente reconhecidas.
Mas, a maioria, acredito eu, se encaixaria em um modelo de pessoa que, por razões da vida de cada um, em seu processo de crescimento, se viu humilhada, esmagada e vilipendiada por outros, e, principalmente, por pessoas matrizes em sua vida, pai, mãe ou outros que tiveram a função de suporte em seus primeiros anos. E, de alguma forma, em sua vida posterior, ocupa o lado oposto nesta relação opressora. Para não ser a vítima que foi em seu passado, identifica-se com seu algoz e, talvez o pior, repete o discurso deste, que faz “isso” pelo bem dos outros. Como muitos falam ao massacrar seus filhos.
Tentando explicar de outra forma, na relação de esmagamento do seu eu com as figuras afetivas importantes de sua vida, a tentativa que lhe resta é se identificar com o pólo agressivo desta relação, reproduzindo esse comportamento com outros.
Infelizmente, ao tentar demonstrar isso ao seu algoz, você simplesmente, ouvirá atônito, estupefato, que ele faz isso pelo seu bem, para você desenvolver seu potencial ou, a pior das citações, para você não ser um fraco. AHIII!!!!
Sem um trabalho profundo de psicoterapia propiciando um desmonte desta personalidade agressiva, não vejo luz no fim do túnel.
E o outro lado….
Em certa medida, ou em certo grau, todos nós vivenciamos relações abusivas em nossa infância, por isso somos tão suscetíveis a elas no nosso dia a dia. Por serem muitas vezes familiares ao nosso sistema emocional, às vezes levamos (e gastamos) muito tempo ao reconhecer e nos conscientizar dessas relações prejudiciais em nossa vida.
Espero ter esclarecido um pouco o meu amigo sobre esse assunto e se ele espera um conselho, lhe direi para sempre que possível manter uma distância segura, a mesma frase sábia que normalmente está escrita nas traseiras dos ônibus e caminhões.