Ingressamos na semana decisiva para o destino do governo Dilma com o Brasil farto das revelações do que foi feito às suas costas, enquanto todo mundo dava duro para ganhar a vida.
Um parlamento mais do que duvidoso vai votar a favor ou contra o impeachment de uma presidente e do seu governo mais do que incapazes de juntar duas ideias e, pior, duas pessoas.
O que o sistema político vinha fazendo, nos momentos de descanso entre uma eleição e outra, já estamos realmente fartos de saber. Mas pouco tem se falado do que faziam as pessoas comuns, além de trabalhar, conviver com a família, se divertir e consumir.
2013 foi um desabafo. Infelizmente, depois das marchas, das selfies, da estética Blade Runner, a onda refluiu para os limites da vida comum, sempre enfastiada com os assuntos públicos. Com muita condescendência aceitamos que aquele sem número de marchas fossem agrupadas sob o título de Jornadas de Junho, numa imitação barata das Jornadas Revolucionárias de 1848 em Paris. Desculpe-nos Tocqueville.
Para muitos como eu, estava claro que de 2013 não sairia uma História. A atração que as novas tecnologias e seus recursos exerciam sobre os atores tinha e ainda tem contornos de fé e misticisimo. Esse fervor a respeito dos poderes mágicos da internet e suas bugigangas conectadas em rede levaram a disseminação de leis não escritas – um O Que fazer? – para a “inevitável” queda do mundo antigo e a emergência do novo.
Diferentemente de Lênin, a garotada do Apocalipse não tomou o Palácio de Inverno. A maior parte das Primaveras passaram como um vídeo: Belo, empolgante e curto. Quantas vezes escrevi que jogar-se contra bombas e escudos podia ser qualquer coisa, menos política?
Rodaram pelo mundo – real e virtual – sandices e ingenuidades pós-anarquistas, do tipo “não temos lideranças”; não temos “programa”, “não temos organização”. E é verdade, eles não tinham em 2013, 2015, 2016, sobretudo no Brasil.
Então chegamos ao ponto de derrubarmos uma presidente e colocar todo sistema político na berlinda e não temos lideranças para competir com Temer, Aécio, Bolsonaro, Lula, quiça Tiririca. Não temos programa para conversar com a sociedade sobre o futuro do país e não temos organização para competir com os velhos partidos, as velhas lideranças, as novidades velhas e com a cleptocracia que domina a política, nos moldes atuais, pelo menos desde os anos 90 do século passado.
Em verdade, não temos pra onde ir e não sabemos o que fazer, além daquilo que a Suprema Corte julgar, que é nosso último lugar de autoridade e legitimidade na República.
Então, venham aqui até a janela. Lembram daqueles milhões de pessoas que já marcharam naquela avenida? Daquela energia que arrepiava a alma? Daquele amontoado de ideias e juízos sobre o Brasil? Daquelas lideranças constrangidas em aparecer?
Não, não saia da janela. A hora é de instituir. Instituir uma organização que encare a política como a mais importante atividade numa sociedade; que entenda a importância da autoridade e da legitimidade numa democracia e que elas só são possíveis pela força dos exemplos e dos resultados positivos na vida das pessoas.
Instituir novos legislativos e novos executivos, nos quais os interesses estejam devidamente representados e transparecidos; onde os assuntos relevantes sejam os únicos aceitáveis nos debates e o dinheiro sirva para compor o orçamento público e pagar salários e fornecedores.
Instituir lideranças pelo nosso respeito e credibilidade. Pessoas comuns, mas cuja importância seja revelada toda vez que a procuramos para ouvi-la.
Olhe lá fora, por esta janela. Está cheio de gente disposta a mudar as coisas. E a hora é agora, para dar tempo das novas gerações desfrutarem de uma nova cultura política daqui alguns anos. Podem vir um por um, como num flashmob. É até mais bonito, menos vulgar e mais surpreendente. Como um clássico da música.