Fotografia cedida por: Dado Braz
Quando nossos objetivos e sonhos ficam muito pequenos para nossa cidade natal; quando as oportunidades de emprego já não parecem tanto para pagar nossas contas; quando os candidatos para relacionamento estão longe de serem a outra metade da laranja ou o que completa sua alma. Nos mudamos, em busca de algo mais, para a cidade grande.
Depositamos tanta esperança no emprego, na prosperidade, e talvez no amor, que nos esquecemos de um detalhe: nós mesmos. Às vezes também esquecemos dos amigos e outras tantas vezes da nossa família de base.
Alcançamos o tão visado emprego, a tão almejada estabilidade (ou não – saímos de emprego em emprego num ciclo sem fim) e acabamos não tendo tempo para aqueles que nos tornam felizes. Ficar ao lado de quem amamos passa tão rápido e nosso relógio gira os ponteiros depressa demais.
Conquistamos o mundo; novas amizades, trabalho por trabalho. Identificamo-nos com uma diversidade de pessoas, porém quando partimos desse ambiente em comum, levamos dois ou três, raramente mais, as pessoas tomam novos destinos, novos conhecidos, novos afazeres, novos amores.
Nós, do interior, ficamos inquietos na cidade grande; sempre queremos fazer a diferença. Somos ariscos no começo, mas quando achamos que o território está ganho nos tornamos muito sociáveis. Esses dias usei o interfone para falar com minha vizinha para avisá-la que eu tinha veneno caseiro contra as baratas, expliquei que era com base de cebola, melado e bicarbonato, e ela desconfiada achou que eu queria matar os gatos dela.
Na cidade grande é difícil confiar. Criamos medo de nossas próprias sombras; alucinamos que alguém nos persegue no centro de Porto Alegre ao meio dia. Criamos antipatia antes da empatia. Corremos demais e sem o fato de corrermos no Gasômetro; corremos pelas ruas da cidade todo santo dia, corremos aos finais de semana também pra dentro dos shoppings, e alguns dias para não ficar tão monótono com o cinema, corremos para pegar a lotação. Corremos tanto e não sabemos quando vamos parar.
Criamos novas famílias, novas responsabilidades, novos grupos de amizades, temos novas casas, e escolhemos a cidade grande como a pista para o nossa corrida da vida. E quando nos perguntam se nos vemos vivendo o resto das nossas vidas na cidade grande, a resposta vem em seguida: “Sim, aqui foi onde eu me descobri como pessoa, vivo correndo, é isso que faz a minha máquina girar, não teria como, não me vejo voltando, só me vejo morando aqui na cidade grande”.