Texto tardio, deveria ser postado dia 8 de março, comecei, porém, neste veículo depois, mas o tema me intriga nestas “andanças” de voluntário. Virá o debate: que se estabeleça e crie (esperança utópica) uma reflexão para estes nossos dias tão rotineiros e banais.
Intriga aquela frequente presença de homens já distantes da idade de menino com as suas mães à beira dos serviços de saúde. Aos leitores que se despedem pela imagem em ameaça, alerto, é um elogio, uma admiração às cuidadoras que há anos presencio em ambientes públicos e privados, quem já não as teve em família?
Sempre elas, a maioria mães, filhas uma boa parte, irmãs, categoria menor e, “rareando”, as parentes, porém são sempre mulheres. Alguns homens? O mais próximo que presenciei eram filhos frágeis, por ventura de doenças que os levaram ao tal mutualismo.
Uma pesquisa talvez pudesse coletar os dados sócio-econômicos destas visitas contínuas aos serviços de saúde e detectar o que presumo em observação e formulo em hipótese: a maioria quase absoluta dos homens em idade avançada retoma a relação filial com as suas esposas, e por um motivo óbvio, a incomparável resistência destas senhoras já em terceira idade (de onde isto de o sexo feminino ser frágil?).
Levando em conta o papel assumido ao longo de suas vidas, mereceriam o mais alto lugar do pódio (ex-amantes e esposas, quase escravas, mães, avós, domésticas…). E persistem, desprezadas pelos governos, pelos amigos, e, não-raro, pelos parentes, alheias às datas que as honrem com uma hora que seja em salões de beleza, com mimos em jantares ou com anúncios em horários ou páginas nobres. Administram o básico: higiene e alimento, monitoram a parca vida dos moribundos, de mães e pais, filhos e, por fim, os incapacitados maridos (o passivo da soberba machista).
É provável, não sou expert, que o sexo feminino tenha sido dotado com uma superação para as adversidades psíquicas e físicas para simplesmente proteger, será? Ou tudo isso é uma lógica perversa? Diriam os senhores e senhoras especializados em comportamento humano que são mulheres, e, portanto, capacitadas desde a origem.Temo as certezas que se dizem científicas. Até porque nem todas assumem o que é genérico. Variáveis genéticas? Quem sabe? Prefiro desafiar o consenso e propor um debate em cima da hipótese de que, identificando a categoria psicossocial destas cuidadoras, é bem provável que esta notável particularidade legitime uma perversa lógica da exclusão.