Existe um mundo encantado onde um suposto cidadão de bem tem os seus direitos conquistados com muito suor, sangue, sofrimento, lágrimas e alma atacados pelas minorias intransigentes e opressoras.
No mundinho encantado do suposto cidadão de bem, existe uma militância gayzista tentando destruir a família e acabar com os heterossexuais para implantar uma ditadura gay. Isso tudo apesar de não termos notícia de nenhum caso de grupo de homossexuais que saem por aí matando heterossexuais, ao contrário dos pelo menos 3 mil homossexuais mortos pela sua orientação sexual desde 1980.
No mundinho encantado do suposto cidadão de bem, existe um bando de mulheres mal amadas e mal comidas querendo ter mais e mais direitos e nenhum dever, que reclamam e vão às ruas contra a violência e o machismo, mas vejam só que horror e que injustiça ao pobre homem, não hesitam em serem as primeiras a pegar botes salva-vidas em um naufrágio, uma situação corriqueira, como todos e todas sabem. Para o cidadão de bem, essas feminazis não têm mais pelo que lutar, ignorando, é claro, as mais de 40 mil mulheres assassinadas no Brasil entre 1998 e 2008, um verdadeiro massacre.
No mundinho encantado do suposto cidadão de bem, o politicamente correto andou deixando o mundo muito chato, pois tudo é racismo, coisa que não existe mais no Brasil, afinal, todos e todas têm as mesmas chances, inclusive, tem até um amigo negro que concorda com ele. Óbvio, nesse mundinho, o cidadão de bem ignora que a renda média mensal de um homem branco é 98% maior do que a um homem negro e 200% a de uma mulher negra, que cerca de 70% dos brasileiros e brasileiras vivendo em extrema pobreza são negros e negras, que enquanto os homicídios de pessoas brancas têm decrescido, a população negra morre cada vez mais por assassinatos, que a imensa maioria da população universitária é branca, e por aí vai, mas o problema mesmo é o politicamente correto deixando o mundo mais chato, não as estatísticas.
No mundinho encantado do suposto cidadão de bem, o golpe comunista já começou, afinal, essa é a única explicação para que dezenas de médicos e médicas de Cuba venham ao Brasil ganhando uma merreca comparado ao que a classe médica brasileira recebe. Só podem ser guerrilheiros infiltrados, pois quem aceitaria cuidar da saúde da população mais carente do Brasil em condições extremamente precárias se não fosse forrar os bolsos, certo?
O mundinho encantado do suposto cidadão de bem é realmente fascinante. Nas próximas semanas, vamos tentar desvendá-lo através de uma série de posts que mais do que responder, irão provocar.