Dorinha chega daquele jeito manso que a caracteriza entre o deboche e a seriedade dos seus 7 anos e pergunta à sua mãe (Claro que vocês já sabem a pergunta!).
“…de onde nascem os bebês?”
A mãe pensa rapidamente e entre o desconcerto da situação e sua vasta experiência anterior de ser mãe de Caio, 14 anos, sai em desabalada correria ao encontro do salvador livro.
De onde viemos…esse é o título com aquela capa de abelhas e zangões .
Que gaiato teve a ideia de comparar a reprodução humana a abelhas e zangões! Que coitados! Ao final, morrem na mão de suas fêmeas dominantes (bem, na mão é modo de dizer). Algo terrível acontece, eles têm seus órgãos sexuais arrancados em abrupto voo. Talvez eu sem querer tenha descoberto porque tantos homens têm ejaculação precoce, mas isto é outro assunto.
E vai lá a feliz mãe contar aquela atrocidade à filha.
Se as histórias e fábulas marcam nossas infâncias e nos dão modelos para o futuro, começo a ficar preocupado com quem ouve a história das abelhas…
Mas, voltando ao nosso tema, Dorinha vai crescendo e é óbvio se realmente aquela primeira pergunta se referia somente à reprodução, as próximas, com certeza, estarão muito mais próximas da sexualidade de forma geral. Até mesmo esta primeira pergunta é carregada de um certo sorriso um tanto maroto, um tanto envergonhado, ou até com certo medo. A razão disso é que a sexualidade está presente em nós desde o início da nossa vida. É o prazer exprimindo nossa ligação com a vida. Quem amamentou ou viu amamentar deve ter percebido isso.
Mas fico pensando o que dirá esta mãe, quando abrir repentinamente o quarto da filha e notar um certo movimento rítmico debaixo das cobertas antes que o reflexo da adolescente perceba a mãe e interrompa o movimento e com um certo “passa fora” tente defender sua intimidade. Uma mulher de 25 anos contou-me que quando ocorreu um evento muito similar a este, sua mãe disse:
“…não faça isso, quando casar seu marido fará para você …” Aiiiii(digo eu).
E anos depois, que talvez não sejam tantos assim, a filha chega a casa na hora estipulada pelos pais e enquanto eles estão afundados no sofá cansado de guerra, vendo pela enésima vez o mesmo capítulo da mesma série no sábado à noite, o que seus pais falariam ao ver sua doce filha adentrar a casa com um olhar lânguido de muito prazer e gozo, desfrutado com seu namorado, que eles acharam que eram muito novos para começar um namoro, mas, que, pelas evidências, passaram a tarde e o começo da noite estudando biologia humana na casa dele, e ela chegou obedientemente às 24:00 como lhe foi ordenado?
E em seguida, a mãe olha para seu marido, o pai, e sente a nostalgia de quando o sexo para eles era o parque de diversão dos adultos, expressão esta de um saudoso velho professor.
O que vocês dirão para seus filhos sobre sexo? Será diferente para o filho e para a filha? Vocês falaram como seus pais falaram para vocês ou nem falaram? A virgindade será um troféu a ser preservado ou um peso anacrônico a ser tirado?
Comemorarão com champagne como algumas famílias fazem, e eu presenciei, ou darão uma bronca e dirão somente solenemente e com uma cara de frustrados para não esquecer de usar camisinha?
Quero dizer apenas aos pais que antes de tentarem educar seus filhos sobre sexo, se perguntem o que realmente pensam sobre isso e se realmente gostariam de passar dessa maneira para seus filhos. E de quanto sofreram por ouvir certas coisas de seus pais (Sua vagabunda!). Não há a maneira certa, mas com certeza há maneiras erradas que podem acarretar sofrimento por décadas.
Eu, por minha parte, tento ser franco com meus filhos e tento ajudar os pais que me procuram para fazer o mesmo com os deles e não conseguem, convido–os a refletirmos juntos, não para encontrar o certo porque eu não sei onde se encontra, mas para, pelo menos, se afastar do errado, que talvez tenha criado tanta dor e perda de prazer nestes pais.
O sexo, o prazer e o gozo são dádivas que Deus nos deu em um mundo tão difícil, seria pecado recusar esse presente divino!