— Mãe, tô indo?
— Vai com Deus, meu filho! Cuidado lá no estádio…
— Mãe, a gente desistiu do jogo…estou indo pra caminhada…
— Caminhada? Que caminhada?
— Caminhada contra o aumento das passagens…fui!
E a mãe ficou em casa se perguntando se aquele era o filho que ela conhecia. Caminhada? No tempo de sua juventude se falava em passeata, até isso mudou. Resolveu ligar a tevê, a internet e, admirada, viu um país nas ruas, no congresso nacional, novamente em manifesto.
Sim, há nas ruas um claro exercício de cidadania, incitado pelo aumento das passagens dos ônibus ou outros motivos, mas estão nas ruas a classe média, os universitários, os professores, as donas de casa, aqueles que são desrespeitados diariamente pelos abusos cometidos pelos governantes, médicos, artistas, jovens, idosos, pais, mães, brasileiros que, levados pelas redes sociais e pelo boca a boca, revelam a insatisfação.
Tenho visto, pelas redes sociais, de tudo um pouco, mas tem me chamado a atenção a desconfiança da fidedignidade do movimento. O que VOCÊ quer? Se o povo se manifesta, não presta; se o silêncio e a alienação imperam, a reclamação embala as conversas de bar… É inegável o avanço social que vivemos nos últimos dez anos, o povo com melhores condições de vida agora tem interesse pelas questões políticas. Sei que há alguns dos intelectuais de plantão que vão dizer que o povo não está representado nessas manifestações, que isso é coisa de classe média que não está satisfeita com o governo e… Sim, e a classe média não é povo? O que é povo, afinal? O que vimos não estava dividido por classes, foi uma imensidão de insatisfeitos que, de branco (ou não), tenta renegociar, reconsiderar, refazer os planos.
O país fez um belo gol!!! O noticiário teve que se render aos encantos das ruas; apesar de alguns exemplos de vandalismo, coisa esperada e possível, o povo encaminhou as manifestações de modo ordeiro e significativo. Dizendo-se apartidária, a manifestações foram políticas. Cabe uma pergunta: por que não o partido? Revelador, não?
Na televisão, assim como nas ruas e nas redes sociais, o tema, em pleno evento internacional de futebol, sediado no país do futebol, não foi o futebol. O esporte preferido do brasileiro assumiu lugar de coadjuvante diante de tantas demandas urgentes e reais. Somos um país de trabalhadores. Gostamos de novela, samba, jongo, Carnaval, … e política. Recuperamos, aos poucos, o que acreditava-se perdido: a voz.
Quanto às ações de depredação: há leis que regulam isso, e elas são para todos.
— Ai, meu filho, onde você está? Cuidado!!! Eu tô vendo que estão botando fogo…
— Mãe, tô escutando pouco… fala mais alto… ó, eu tô bem! Mais tarde eu ligo!!!
Há muitos outros temas merecendo caminhadas…vamos adiante!!!