Não, não vou falar do livro que se chama “O viajante solitário”, do Jack Kerouac, e não creio que as minhas experiências até aqui tenham muito a ver com as que o Jack tinha nos anos 1950 e 1960 – para frustração geral da nação. Mas vou escrever aqui, sim, sobre a arte de viajar sozinho. Eu digo arte porque a maioria das pessoas preferem viajar em grupos, ou em família, ou com o amorzinho da vida delas… Então, viajar sozinho, e usufruir dos lugares sozinhos, acaba se tornando um desafio. Se for colocar tudo na balança, na minha opinião, eu prefiro fazer alguns tipos de viagens sozinho. Essa que estou fazendo, por exemplo, está dividida: quatro meses e meio sozinho, três com a família, e mais quatro e meio sozinho. Pra mim, é o equilíbrio perfeito.
Digo isso porque com certeza se tivesse outra pessoa aqui comigo, nessa viagem, os interesses de passeios e a energia para caminhadas, horas de metrô, tempos sem comer, etc, dificilmente bateriam. E não falo de cônjuge, não. Mesmo se tivesse aqui qualquer um dos meus amigos, dificilmente eu estaria fazendo tudo o que tenho feito. Um exemplo disso é o planejamento que estou seguindo. Conforme programei antes de vir, reservei os dez primeiros dias para conhecer aqueles pontos turísticos clássicos: Estátua da Liberdade, Memorial do World Trade Center, Time Square, Wall Street, Central Park, etc. Agora, passada aquela necessidade ardente de ir nos lugares em que “se tem que ir” quando se está em Nova York, comecei a curtir outras regiões da cidade, a ir a lugares não tão badalados. Um deles, e que achei sensacional, foi Coney Island, a praia que fica localizada no sul do Brooklyn. Aliás, a temperatura de 30 graus no final de agosto, eu confesso que não esperava. Então, nada como uma ida a Coney Island. Mas a emoção maior, e que tornou a minha ida lá inesquecível, foi que na medida em que desci do metrô e fui andando em direção à praia, fui reconhecendo o cenário: lá que foi filmado o clipe de “One of us”, de Joan Osborne, que há muito eu considero o melhor clipe que já vi.
Ver aquela rua, com o parque ao fundo, a praia gigante, o mar iluminado pela luz do sol e, o mais importante, as pessoas que pareciam ser as mesmas que participaram do clipe, não tem preço. Acabei passando um dia inteiro lá, só absorvendo a atmosfera, esquecendo do mundo, dos problemas, da seca de títulos do Grêmio, da tese que tenho pela frente pra escrever, e até duma certa “pressão” que às vezes sinto para que eu “curta” Nova York. E nessa tarde, sim, eu curti Nova York. Pensei, olhando pro mar, “p*** que p*****, isso aqui existe em Nova York! É muito do caralho!”, e pensei, Nova York é foda.
E é foda porque tem um milhão de lugares pra você ir a qualquer hora, em qualquer dia da semana, e um lugar mais foda que o outro. E as pessoas também são fodas – aliás, tem um site que se chama “Humans of New York” – que voltarei a falar dele aqui mais pra frente, quando o autor participar de um evento em outubro – que exemplifica bem a diversidade de seres humanos que habitam e passam por Nova York.
Enfim, acho que esse é o lado bom de viajar sozinho: se você acorda e não está com fome, saí passear, a qualquer hora do dia, almoça às três da tarde, muda a programação do dia sem precisar consultar ninguém, se está afim de sentar num lugar e ficar viajando você fica e, claro, você sempre tem a desculpa de que está sozinho para puxar conversa com outros perdidos como você… E assim você acaba se achando…
Bom, agora vou parar de escrever e ver se me perco um pouco por ai….
Hasta!