Recentemente, assisti na televisão uma propaganda da Prefeitura de Porto Alegre, na qual apareciam imagens e uma locução que falava do Parque Corredor Gasômetro como um primoroso projeto da administração municipal. Fiquei muito surpresa com isso, pois tenho acompanhado a luta da comunidade pela implementação do parque, previsto em lei, por ocasião da revisão do Plano Diretor da cidade. Possibilidade cada dia mais distante, visto a devastação de árvores de mais de 40 anos na área e toda mobilização ocorrida no mês passado, e que acabou em uma ação-surpresa da Brigada Militar, durante a madrugada, resultando na prisão de mais de vinte jovens que estavam acampados no local.
O sonho do Parque Gasômetro, que iniciou há 6 anos, previa a ligação entre as praças Brigadeio Sampaio, Júlio Mesquita, Ponta do Cais Mauá e Orla do Gasômetro, de forma que os automóveis passassem por baixo dessa ampla área verde, possibilitando o livre trânsito de pedestres e bicicletas. Segundo os moradores, o projeto já estava bem definido, conforme se pode ler no blog do Movimento Viva Gasômetro:
“Desde o primeiro momento expressávamos nosso desejo quanto à forma e à extensão do Parque, a forma que desejamos é com “entrincheiramento” dos carros e por cima deste um gramado unindo as praças Brigadeio Sampaio, Júlio Mesquita, Ponta do Cais Mauá e Orla do Gasômetro. A extensão, sempre defendemos, que o Parque tivesse início na Praça Brigadeiro Sampaio-logo após o término dos prédios do Exército- passando na frente da Usina e finalizando este junto a rótula onde esta localizada a escultora de pedras de Xico Stockinger. Esta é a nossa proposta, esta e somente esta.”
O atual plano da Prefeitura divide o parque através de uma via expressa, que faz parte de outro projeto não tão alardeado, dando forma à pista projetada para a disputa da Fórmula Indy. Claro que a comunidade não foi consultada sobre isso, nem ao menos foi ouvida em suas reivindicações de uma área verde, ligando as praças ao Lago Guaíba. Ao contrário, com anuência da Justiça, mais árvores foram cortadas, deixando mais distante o tão desejado Parque do Gasômetro.
Mas nem por isso a mobilização da comunidade deve parar. Nas reuniões dos dias 11 e 18 de junho, no Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano Ambiental (CDMUA), o assunto voltou à discussão. Com a pressão do povo nas ruas, reivindicando seus direitos, muitos desrespeitados em função da Copa 2014, e o Parque do Gasômetro e a área do Cais fazem parte disso, reafirmou-se que a população precisa ser ouvida, e com mais razão antes da execução de projetos que afetem tão profundamente as cidades. Além disso, a comunidade vem se articulando para sensibilizar vereadores para a causa, bem como aglutinando entidades, tais como a AGAPAN e Associação dos Moradores do Centro Histórico, para dar mais visibilidade e força ao movimento que exige essa área pública para Porto Alegre.
Se a Prefeitura quer fazer jus ao slogan que a vem usando em sua campanha publicitária, “Nossa Porto Alegre”, terá que fazer realmente mais e melhor. E, para começar, entender que construir a cidade de todos só será possível com a participação de seus cidadãos.