Há poucos dias, no início de dezembro foram divulgados os dados do Pisa, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Os resultados dão conta de que o Brasil, apesar de ter apresentado o maior salto em desempenho em matemática entre os países analisados, ocupa a 58º posição em um ranking de 65 países. Talvez o ranking não importe tanto quanto alguns dados que constam no relatório da OCDE.
Seis níveis de conhecimento são considerados no Pisa. Nossos estudantes de 15 anos atingem, em média, apenas o nível 1, o mais baixo de todos, quando o assunto é matemática. Já em leitura, que também teve desempenho melhor que em anos anteriores, a avaliação dos dados indica que apenas 0,5% dos jovens avaliados são capazes de compreender um texto que não lhes é familiar.
A questão de fundo é o valor que damos para a educação. O relatório do Pisa é claro ao dizer que o Brasil precisa investir mais recursos, principalmente nas escolas das áreas mais pobres, que, não por acaso, são as que apresentam os piores resultados.
Para termos uma ideia, de acordo com a OCDE, o país gasta média de 27 mil dólares para educar uma criança dos 6 aos 15 anos. Nos países mais ricos avaliados pela organização, este valor é de 83 mil dólares, mais de três vezes mais do que investimos. O governo diz que estamos fazendo muito com pouco investimento, mas será que é o necessário? Com profissionais de educação com salários e condições de trabalho extremamente precarizadas, dificilmente nossos estudantes terão uma formação que lhes permita ler o mundo de forma minimamente satisfatória. Valorizar os professores e profissionais da educação é fundamental para avançarmos. (Não é por acaso que foi necessário criar um piso nacional para melhorar os salários na área. Mesmo assim, em nosso estado ele não foi cumprido sequer pelo seu idealizador!)
Ensino público
Se na educação básica o ensino público engatinha e perde para a rede privada, na educação superior a situação é oposta. Os bons resultados das universidades públicas geralmente são sentidos não só pelos alunos, mas também pelas comunidade em que as instituições estão inseridas, a partir da tríade ensino-pesquisa-extensão.
No Noroeste do RS acontece uma situação peculiar. Enquanto um grupo mobiliza-se para levar o ensino público e gratuito à região, há quem seja contrário, por entender que uma universidade pública desestruturaria a rede de ensino superior privada já estabelecida. Não há como prever o futuro, mas quase todas as experiências de universidades públicas revelam desenvolvimento regional, atraem estudantes, estimulam a economia e o desenvolvimento local. Uma cidade que se torna um polo de ensino tem potencial inclusive para aumentar a demanda pela educação privada. Ao invés de minar as instituições particulares existentes, poderia potencializá-las. Uma coisa não inviabiliza a outra, pelo contrário, se somam.
No medo de não avançar, o risco de retroceder
Não vejo problema na defesa de uma instituição ou dos interesses privados. É plenamente justificável. O problema é quando afeta a coletividade. Um exemplo emblemático: quando o governo passou a terceirizar trabalhadores massivamente, no início dos anos 1990, contrariando o entendimento da justiça sobre terceirizações, foi feito um acordo com um banco público para que realizasse um concurso para substituir/formalizar os trabalhadores terceirizados. Com medo de perder seus empregos e não ser aprovados no concurso, os trabalhadores terceirizados representaram um dos setores que pressionaram o Supremo Tribunal Federal a regular as terceirizações, o que aconteceu com a súmula 331. E a partir daí a precarização do trabalho com a terceirização aumentou exponencialmente. A causa deles, pelo emprego, era justa, mas a condição de precarização a todos os demais trabalhadores, contratados desta forma depois deles, não era e não é.
Os interesses privados não podem interpor-se aos coletivos. A educação é um direito garantido em constituição. Quem é contra o ensino público, seja pela causa ou motivo que for, está, inevitavelmente, posicionando-se contra o bem comum.