Quando comecei a ver os protestos gigantes na Argentina em 2001, e depois os que aconteceram na Europa em 2011, também comecei a pensar: porque no Brasil, isso é tão difícil de acontecer? Porém, hoje, parece um sonho se tornando realidade.
Vi muitas pessoas dizerem pra não misturar o fato do aumento das passagens com a situação política, que tinha muita gente se aproveitando pra fazer isso, e não sei o que e não sei o que. Eu acho que tem que aproveitar mesmo, tem que misturar, tem que demonstrar a nossa insatisfação com o governo. Está mais do que na hora, ou vamos ficar adiando isso até quando?
A Argentina é tida como um país falido. Um país em crise desde muito tempo. Ok. A passagem mais cara que pago aqui, é $ 2,35 (no câmbio oficial, daria algo como R$ 0,94) por um trajeto de 21km. Aqui na Argentina (mais precisamente Buenos Aires) o transporte público é tido como caótico, ônibus que não passam no horário, que não param, que vivem lotados. Isso sem falar nos trens, que a cada duas por três tem um acidente. Mas bem, durante anos, o governo subsidiava parte do valor dessa passagem, até que ano passado as passagens aumentaram. Antes desses R$ 0,94, eu pagava R$ 0,50. Sim, isso mesmo, cinquenta centavos, pelos mesmos 21km.
Tudo bem, a Argentina é infinitamente menor que o Brasil, a população é inúmeras vezes menor que a do Brasil. Mas o combustível que os ônibus usam, acredito que seja o mesmo que no Brasil, e o valor do combustível aqui na Argentina é tão caro, se não mais, que no Brasil. Aí fico pensando, se a Argentina, que é um país falido, consegue ter um dos transportes públicos mais baratos do mundo, porque o Brasil, que é um país rico em vários aspectos, tem que cobrar valores assim?
Bom, minha experiência em meio a manifestação em território estrangeiro, foi algo meio que inexplicável. O orgulho que senti de caminhar pela principal avenida de Buenos Aires, junto com outros mais de mil brasileiros, cantando expressões como “Da Copa eu abro mão, eu quero mais dinheiro para a saúde e a educação” “O povo na rua, Dilma a culpa é sua!”. Parando em frente a um hotel, ver os hóspedes sairem nas janelas. Vem um motorista de um ônibus, que teria todo o direito do mundo de nos criticar, pelo fato do seu país não ter nada a ver com isso, pegar uma bandeirinha do Brasil e começar a agitar ela. E, quando menos se espera, os passageiros, mesmo de dentro do ônibus, começam a fazer gestos como que apoiando a gente, isso não tem explicação, não tem preço.