O mais velho, um adolescente de 13 anos, esforçava-se para convencer seu irmão, que estava na faixa dos 9 anos, que ele era adotado: “… você não nota que seu cabelo é diferente do cabelo do pai e da mãe, o pai tem cabelo “cinza” e a mãe é loira” (graças à tinturista, diga-se de passagem) e “você…, ora, você tem cabelo castanho escuro e veja como a mamãe é branquinha e você é tão escuro”, (apenas queimado de praia)… O caçula ficava entre acreditar e duvidar da zoação do irmão. Essa foi uma cena entre muitas que aconteceram.
O tempo passou e eles dois nunca se deram bem, cresceram e sempre uma distância fria se manteve, quando não, discussões acaloradas nascidas de não se sabe onde. Às vezes, os pretextos para uma briga eram os mais simplórios possíveis, uma disputa por brinquedos entre filhos e sobrinhos e começava a terceira guerra mundial, mas o que já era difícil, piorou com a morte da mãe, depois de alguns anos do falecimento do pai: a guerra estourou com toda a força de titãs em choque, e os pruridos ou cometimentos que ainda havia foram para o espaço. E o rompimento foi inevitável. Não se falavam mais!
Obviamente, começou uma guerra sobre a herança que incluía desconfianças, ameaças e uma perda financeira considerável de uma herança que nem era considerável. Só os advogados lucravam…
Mas o que teria acontecido com esses irmãos entre aqueles dois momentos? O que teria alimentado tal rivalidade? Esse assunto é tão vital e fundamental na existência humana que a Bíblia nos conta várias histórias sobre o tema de Caim e Abel, José e irmãos , Jacob e Esaú etc.
Na idade média, a herança patrimonial de uma família ia obrigatoriamente para o primogênito e de alguma forma os outros filhos assim ficavam dependentes e subjugados a ele; na idade moderna, até os dias de hoje, evolui a partição da herança, garantindo partes iguais para todos, salvo exceções muito específicas. Mas o mesmo não ocorre com o afeto dos pais.
“…Eu amo igual todos os meus filhos …”
Só a simples necessidade de proferir essa frase afirma o engodo desta ideia. Ama-se de forma diferente pessoas diferentes e isso não é exatamente amar menos ou mais alguém. Mas, infelizmente, alguns filhos sentem-se renegados a um limbo, onde o vácuo afetivo impera.
Filhos nascem em épocas diferentes do casamento de seus pais, de sexos diferentes, com aparências diferentes, habilidades díspares e, principalmente, e, com certeza, o mais fundamental, filhos são identificados a figuras afetivas primeiras, diferentes na vida de cada pai. Nesses casos, muitas vezes não é exatamente amar diferente pessoas diferentes, mas, explicitamente, não amá-las ou talvez até odiá-las (alguns pais, sim, odeiam seus filhos).
Atendi uma família que o pai só batia e era excessivamente rígido com um dos filhos, que, pasmem (parece até folhetim), tinha o nome do avô paterno.
Alguns pais consideram seus filhos mais “Almeida” do que “Silva”, portanto do outro time. Isto é, as dificuldades dos seus pais com seus respectivos pais são projetadas em seus filhos por alguma identificação consciente ou não, e algumas dessas relações são destrutivas e tóxicas, gerando uma sensação de injustiça em pelo menos um dos filhos e a rivalidade é uma consequência dessa situação.
Além disso, uma outra situação bastante comum é a da máxima de “dividir para reinar”. Muitos pais sistematicamente comparam seus filhos uns aos outros, sempre na intenção de apontar falhas ou dificuldades, com isso a rivalidade e o ressentimento florescem.
O mais importante, porém, é alertar aos meus leitores, que se veem enredados em infindáveis disputas e invejas fraternais, que devem prestar atenção nas gerações que os antecederam, a fim de notar que este ambiente de hostilidade é transmitido de geração a geração. Pais em guerra com seus irmãos produzem guerra entre seus filhos. Talvez essa consciência possa ser o início da mudança dessas situações terríveis.
Pena! Porque se procurarmos no dicionário a palavra fraterno encontraremos pelo menos dois significados para ela: um refere-se a irmãos, outro a afetuoso.