Foi com muito bom humor e criatividade que em 2011 os idealizadores da plataforma colaborativa PortoAlegre.CC passaram a colocar Porto Alegre no mapa da colaboratividade. Desde então, as ruas, os parques e qualquer centímetro de espaço público são territórios de invenção e experimentação social,de convívio pagão e exercício da política urbana.
Não são só as formas de mobilização e expressão que colocaram as tradições da província em pânico. A estética também mudou. O catálogo de prioridades mudou também. Idem os autores.
As Assembleias em galpões e Igrejas continuam firmes e cumprem seu papel. Mas é ao ar livre, em ambiente aberto, que as mudanças exploram a imaginação. É isso: o que separa a utilidade das Assembléias da inutilidade dos Encontros Fugazes em ambiente aberto é essa fantasia maluca e teimosa chamada liberdade.
Óbvio que reduzo para melhor me fazer compreender. Porque entre os que vivem este processo de fermentação de novos costumes, regras e instituições, convivem também muitos daqueles que têm medo do chão que se abre, de repente, sob seus pés.
Esquerda e direita se olham torto, tomam sucessivos banhos de loja, promovem vandalismos, gritam palavras de ordem, mas poucos as escutam. Ansiosos por serem consumidos, os dois extremos vão se tornando objetos de descarte. Frustrados por não influenciarem no que se passa, tentam explicar os novos fenômenos com recursos cognitivos do passado. Os resultados são pronunciamentos sem significado e textos desafinados.
Portanto, há um fato na linha do tempo de Porto Alegre que separa a era gloriosa da participação, do cotidiano pagão da colaboração. Este fato é a parceria que fez colaborar a Prefeitura de Porto Alegre, a Unisinos, a Parceiros Voluntários e a Lung e que fez emergir o PortoAlegre.CC como plataforma de lançamento e visibilidade dos novos fenômenos sociais.
Verticalidade, centralização, verdade, embate, toda esta construção teórica e institucional que nos trouxe até aqui, é comparada a horizontalidade das personas que se movimentam velozmente, buscando distinção autoral e amizades públicas. Querem, mesmo que provisoriamente, responder à pergunta clássica dos heróis gregos: o que é o Bom e o Belo para uma Cidade?
E quando milhares de pessoas, antes estranhas umas às outras, passam a se reunir a toda hora, surgindo das esquinas, dos prédios, das casas, das calçadas, como num flash mob permanente; e quando estes estranhos se tornam amigos e amigas, e se tocam, e celebram, e corrompem as expressões culturais da tradição e oferecem uma nova estética; e quando coletivamente combinam ações, acordam normas, cujo principal objetivo é o convívio: neste instante nasce uma Cidade coesa e confiante.
Penso que a Serenata Redenção Iluminada é um destes instantes. É nela que testamos nossa humanidade e o quanto podemos nos orgulhar de, mais do que democracia, fazermos civilização.