Na edição de outubro do Jornal Meu Bairro (assine aqui para receber gratuitamente na sua casa), fizemos matérias em busca de soluções para o trânsito na Zona Sul de Porto Alegre. Em uma delas, o vice-prefeito de Porto Alegre, Sebastião Mello, indica algumas soluções a curto, médio e longo prazo. Veja o que ele diz.
Meu Bairro – Quais seriam, na sua opinião, que a Prefeitura precisa buscar para melhorar o trânsito na Zona Sul?
Sebastião Mello – Essa agenda, de mobilidade urbana é hoje um tema principal de todas as cidades do mundo, do Brasil. Evidente que a cidade tem que crescido bastante para a Zona Sul, até porque há mais espaços urbanos, e os serviços públicos as vezes não acompanham o tamanho do crescimento populacional. Acho que nós tivemos duas conquistas importantes, nos últimos anos, as lotações Belém Novo e Restinga. A segunda são as licitações de ônibus que nós fizemos e pretendemos que melhore os serviços. A questão do Catamarã é bem-vinda, mas ele não é uma coisa tão imediata do ponto de vista da rotina do transporte coletivo. Tem que conectar ele com outros modais, se não ele não se torna uma alternativa. Não vai botar, por exemplo, um terminal em Ipanema e não abastecer o bairro. Tem que ter linha alimentadora. Quem tem carro, onde vai deixar o carro? Mas, acima de tudo é a questão do preço. Hoje as pessoas já estão com o salário reduzido e para pagar o preço das passagens já há uma gritaria geral, imagina se colocar o dobro ou triplo das passagens de ônibus… Vai ter turistas no Catamarã, mas não vai ter morador que vai usar esse modal no dia-a-dia. É algo desejável, necessário, mas tem que haver uma construção. Do ponto de vista das duplicações, é evidente que em duplicações a ser feitas, mas elas têm que partir de um pressuposto de que tem que estar conectadas com a melhoria do transporte coletivo, porque se não tu vai lotar todas as vidas de carros particulares.. Então, para ti duplicares qualquer uma dessas vias, Coronel Marcos, Vicente Monteggia, Oscar Pereira, Juca Batista, são melhorias necessárias, mas ela tem que estar lincada de como que eu vou melhorar o transporte coletivo ao melhoraras. Duplicar vias só para carros particulares, eu sou contrário.
MB – E quais seriam os primeiros passos para efetivamente começar a solucionar os problemas?
SB – Tem que trabalhar há longo prazo. Primeiro, imediatissímo, é melhorar o transporte coletivo. O segundo passo para melhoria é, ao abrir essas vias, que não é uma coisa para amanhã, você privilegiar duas coisas: o transporte coletivo e as ciclovias. Então, essas duas prioridades em qualquer via que você venha a abrir, são três coisas: calçadas, ciclovias e transporte coletivo. E, por último, o carro particular. Não pode ser o inverso: carro particular e depois o resto. Calçadas, ciclovia e transporte coletivo e, depois, bom, tem que ter via para carro particular também. Mas são obras pesadas, caras, que não saem do papel do dia para a noite. E evidentemente há longo, médio, prazo, se o metrô hoje, que ainda não saiu, mas tem um traçado para a Zona Norte, nós vamos ter que encontrar alternativas, não sei se um BRT, que é um caminho hoje adotado e com muito sucesso em muitas cidades. É com essas avenidas duplicadas, tu tem que pensar nos BRTs para a Zona Sul, são ônibus que carregam 160 pessoas, têm vias exclusivas e as sinaleiras são inteligente e que elas, ao se aproximar da sinaleira, tem um fluxo mais rápido. Hoje, na hora do pique, em Porto Alegre, nós estamos andando com os ônibus a 12, 13, quilômetros por hora. Não há transporte, mobilidade urbana, uma única alternativa. Tem que ter um conjunto de medidas. Bicicleta, andar a pé, táxi, lotação, ônibus, BRT, Catamarã… Todos esses modais têm que se interligar, não pode é um não se comunicar com o outro. Porque fica um negócio estanque, né?!
MB – E por onde passam os principais problemas que levaram a essa dificuldade no trânsito?
SB – Agora, essa pauta, no Brasil, ela não teve ao longo desses 40, 50 anos, ela não foi pauta dos governos federais. Todo esse transporte pesado depende de financiamento ou de parceria público-privada. Nossos recursos públicos municipais são extremamente limitados. E o Brasil, através do Governo Federal, optou por incentivar a venda de carros… É só olhar os pátios das montadoras. É uma política de incentivar a venda de carros particulares, sabendo que esses carros têm que ter garagem, rua, estacionamento. Mas o governo não se preocupou com nada disso. Vamo gerar economia, colocar emprego, riqueza para as montadoras. E aí, e o resto? Então, essa lógica entupiu as cidades de carro e hoje são insuportáveis brasileiras. O custo Brasil do ponto de vista do trânsito mata, é agressivo, anda devagar, as pessoas se estressam. Agora tu não vai reverter isso da noite para o dia. A reversão disso é médio e longo prazo e com investimento em duas coisas, planejamento e em investimento.