Se por algum poder mágico me fosse permitido escolher neste instante entre o mundo ou o seu mundo, ficaria com o segundo. Especialmente hoje, eu só queria o prazer de uma dança. Não sei se é porque o verão foi embora e porque faz frio na minha cama. Talvez seja a saudade – esta sacana, sussurrando coisas indizíveis, trazendo lembranças indevidas para debaixo do rebuliço do meu cobertor.
E havendo o prazer da dança, queria também o aconchego do abraço. Abraço de corpo inteiro, abraço que parece beijo, que deseja trazer para dentro, transformando dois corpos em um só. E por falar em corpos, experimentar a paz do meu corpo sobre o seu.
Queria qualquer coisa entre delicadeza e fúria. Mas fúria que representa urgência, pressa, desassossego, como quem implora apenas com o olhar, sem dizer uma única palavra, movendo a boca somente para separar os lábios – quero você, agora, aqui dentro de mim! Todo alívio provém de uma tensão crescente. O gozo, por exemplo, é um alívio. E o tesão, você sabe.
Passar a noite em claro, escutando a sua respiração se mesclar ao barulho da cidade e do meu próprio respirar, me molhando no suor da sua pele, me secando na sua língua e entre os lençóis. Passar a noite sem sentir o amanhecer.
Eu só queria a delícia de acordar sendo observada por você, que gentilmente me desperta enroscando as pernas entre as minhas. Que primeiro desliza as costas das próprias mãos contra a minha pele para ter certeza de que já acordei. E após, traz o rosto para pertinho do meu, como quem pede para ser observado. E vai se chegando, repousando a cabeça sobre o meu colo, implorando silenciosamente pelo toque. E eu toco.
Hoje, se por algum poder mágico me fosse permitido escolher, eu escolhia você. Não sei como acontecem, nascem e surgem essas vontades que vêm do nada e quando vão embora, se escondem sabe lá onde e por qual razão. Mas hoje, você me concede o prazer dessa dança?