– Mãe! Ô mãe!
– Te aquieta, guri. Já disse que nada de bola dentro de casa. Sossega e senta nesse sofá.
– Mas mãe…
– O que é?
– Eu queria saber o que que é ateu?
– Ateu? Ateu é… Mas onde foi que tu ouviu isso, Bernardo?
– O pai que falou ontem…
– Outra vez teu pai. E o que foi que ele falou agora?
– Ele disse que ele é ateu.
– E tu ainda dá conversa?
– Mas o que é ateu, mãe?
– Ateu é… É gente que não sabe das coisas!
– Como assim?
– Gente que não sabe o que diz ou que fala besteira.
– Hmmm.
– Agora vai lá tomar teu banho.
– Mas mãe…
– Oi?
– E o pai? Ele é ateu porque não sabe o que diz ou porque fala besteira?
– Teu pai não sabe mesmo o que diz. Mas ateu, meu filho, significa aquela pessoa que não tem fé. E é besteira a gente falar que é ateu porque é o mesmo que dizer que não se tem fé. Entendeu agora?
– Ah… Mas da última vez que o tio Mauro teve aqui em casa, eu lembro dele falando que o pai agiu de má fé. Então o pai não é ateu não, mãe! Ele tem fé, só que, às vezes, a fé dele não é boa.
– Não é isso, meu filho…
– E eu, mãe? Eu sou ateu?
– Não, querido. Você não é ateu.
– E o que que é fé mesmo?
– Fé é quando a gente acredita em alguma coisa.
– Ah! Tipo quando você acredita em mim quando eu digo que já escovei os dentes?
– É, tipo quando eu acredito em você quando diz que já escovou os dentes. Mas agora vai tirar essa roupa suada que a janta sai daqui a pouco.
– Mas por que que eu não sou ateu?
– Porque você tem fé, meu amor.
– Como assim?
– A mãe não te ensinou a rezar antes de dormir e agradecer por todos aqueles que nós amamos?
– Uhum.
– Então!
– Então eu não sou ateu porque eu rezo pro Pai do Céu?
– É. Agora vai!
– Tá bom.
– Esse guri tão novo e me vem com cada uma!
– Mas ô, mãe! Eu não entendi direito uma coisa…
– Hum?
– E Deus?
– O que tem Deus, Bernardo?
– Deus é ateu?
– Claro que não, meu filho! Como Deus vai ser ateu se ele é o nosso Pai?
– Mas mãe, então pra quem é que ele reza antes de dormir?