Cada vez mais me parece que é apenas na falta que notamos a verdadeira importância das coisas.
Desde segunda-feira não tem luz na minha casa. Prédio antigo, fios velhos, curto-circuito eminente, resolvemos desligar tudo até os ocupados eletricistas poderem arrumar. Seria na quinta-feira, mas agora passou par a próxima quarta-feira. Ficamos apenas com o básico ligado a energia elétrica, chuveiro, geladeira e internet.
Essa situação é bem diferente de ir acampar, por exemplo, em que a gente abre mão do conforto por um dia e meio, para se ‘conectar com a natureza’. Hoje, não temos opção.

Foi nessa situação que eu percebi, mais uma vez, como a gente tem o hábito de se acostumar com as coisas e passa a acreditar que elas são essenciais para a nossa vida. Assim como acontece com aquilo que muitos acreditam ser amor, mas depois que passa a gente percebe que não era amor de verdade.
Para ir ao banheiro, lavar as mãos ou urinar, por exemplo, não precisamos de luz. O banho pode ficar bem melhor com uma vela acessa no ambiente, do que com a luz acessa.
A falta de luz nos devolve até o tato. A única maneira de, no escuro, encher o copo de água sem virar é usando a ponta do dedo para sentir o nível da água.
Ai a gente se acostuma, novamente, e percebe que aquilo não era fundamental para o nossa vida. Assim como o “amor”. Amor assim entre aspas, porque não estou falando daquele que é de verdade e que respeito, estou falando daquele que a gente cria.
Cria, se orgulha, se engana e depois não quer voltar atrás.
Primeiro a gente acredita na imagem que fazemos de uma pessoa, ou na imagem que ela monta e mostra para os outros. Ai a gente se acostuma e a convivência passa a ser uma necessidade, como ter luz em casa.
“Passamos por poucas e boas juntos”, se orgulham alguns, “e continuamos ai firmes e fortes amando cada vez mais”. Será mesmo?
Basta o costume ceder espaço para as novas experiências que a gente descobre se amou de verdade, ou era apenas hábito ou medo de mudar.
Eu gostei de viver sem luz.