Fernando Henrique Cardoso figura na foto entre Sócrates e Tucídides. Nestes tempos em que vivemos, faria bem à saúde da política do país se visitássemos, vez por outra, a democracia grega e os textos daqueles que a eternizaram como conhecimento.
Os gregos da época de Péricles estariam à vontade no Brasil contemporâneo. Eles que acreditavam no poder do calor para energizar o corpo e dar força às palavras, não estranhariam os atuais “debates acalorados”.
FHC disse o óbvio numa democracia: não é o momento para o impedimento da presidente, porque falta “o fato” para aplicar a lei. Inútil: os amantes da eloquência incendiaram a Ecclesia virtual e os argumentos que não acumulam significados confundiram a audiência que, como sempre, oscilaram entre um e outro lado. O curioso é que tanto os defensores da “condenação” quanto os da “absolvição” igualaram-se nas ofensas ao intelectual presidente. O que preocupa é que, invariavelmente, é a audiência quem decide.
Coisa mais fácil defender o impedimento de Dilma. Não são poucos os fatos presentes e passados a alimentar a paixão e a eloquência dos que querem vê-la condenada, junto com o PT, ao ostracismo.
Sobre o passado, tudo verdade. Afinal, o PT transformou tudo e todos fora da sua Pólis em odiosos bárbaros. FHC, nesta maratona de 20 anos, passou a significar o Rei de Esparta. Para lembrarmos, a Guerra do Peloponeso durou 47. Não há humano que resista a tanto ressentimento.
Sobre o presente, meia verdade. São sobre integrantes do PT que pairam as evidências dos “malfeitos” e é deles que a justiça se ocupa. E a justiça, diga-se de passagem, deve estar livre da política, como preconizava Aristóteles.
Mas voltando à democracia grega, esse affair em torno da declaração de FHC refrescou minha memória sobre a batalha naval de Arginusa, ocorrida em plena Guerra do Peloponeso, em 406 AC.
Suscintamente, nesta batalha marujos atenienses foram abandonados por seus comandantes e morreram afogados. A tragédia foi levada pelo Conselho à Ecclesia ateniense e os oficiais denunciados. A ausência de testemunhas – exceto os comandantes – e a distância do fato facilitaram a vida dos eloquentes da acusação.
Terâmines e Mênecles fizeram a festa e acaloraram o debate. Além de bons oradores, lançaram mão do voto em aberto, usado em questões graves de Estado.
De nada adiantaram os argumentos de defesa, atribuindo a tragédia à tempestade que ameaçava toda a esquadra. Assim, para salvar um maior número de atenienses optaram por sacrificar alguns. Ou que levar o acontecimento direto à votação da Assembleia, antes da avaliação das Cortes, violava a lei. Que nada, bradaram os acusadores, “seria monstruoso o povo ser impedido de fazer o que bem entendesse”.
Com muito medo, os partidários dos militares silenciaram, exceto Sócrates, “que se recusa a agir contra a lei’, nos relata Xenofonte.
O povo votou e os comandantes foram condenados à morte e executados em local secreto, como exigia a lei. Tempos depois os cidadãos arrependeram-se da decisão, como se fosse possível corrigi-la.
Com efeito, no caso de Dilma, FHC está à altura de Sócrates. Mas os eloquentes parecem apreciar Tucídides:
“…qualquer ideia de moderação nada mais foi do que uma tentativa de disfarçar um caráter impróprio a um homem: habilidade para entender uma questão sob todos os ângulos possíveis significa completa incapacidade para a ação.”
Escolhas são sempre muito pessoais. Ou como diria minha avò: “há quem goste do olho; outros da remela.
Os gregos da época de Péricles estariam à vontade no Brasil contemporâneo. Eles que acreditavam no poder do calor para energizar o corpo e dar força às palavras, não estranhariam os atuais “debates acalorados”.
FHC disse o óbvio numa democracia: não é o momento para o impedimento da presidente, porque falta “o fato” para aplicar a lei. Inútil: os amantes da eloquência incendiaram a Ecclesia virtual e os argumentos que não acumulam significados confundiram a audiência que, como sempre, oscilaram entre um e outro lado. O curioso é que tanto os defensores da “condenação” quanto os da “absolvição” igualaram-se nas ofensas ao intelectual presidente. O que preocupa é que, invariavelmente, é a audiência quem decide.
Coisa mais fácil defender o impedimento de Dilma. Não são poucos os fatos presentes e passados a alimentar a paixão e a eloquência dos que querem vê-la condenada, junto com o PT, ao ostracismo.
Sobre o passado, tudo verdade. Afinal, o PT transformou tudo e todos fora da sua Pólis em odiosos bárbaros. FHC, nesta maratona de 20 anos, passou a significar o Rei de Esparta. Para lembrarmos, a Guerra do Peloponeso durou 47. Não há humano que resista a tanto ressentimento.
Sobre o presente, meia verdade. São sobre integrantes do PT que pairam as evidências dos “malfeitos” e é deles que a justiça se ocupa. E a justiça, diga-se de passagem, deve estar livre da política, como preconizava Aristóteles.
Mas voltando à democracia grega, esse affair em torno da declaração de FHC refrescou minha memória sobre a batalha naval de Arginusa, ocorrida em plena Guerra do Peloponeso, em 406 AC.
Suscintamente, nesta batalha marujos atenienses foram abandonados por seus comandantes e morreram afogados. A tragédia foi levada pelo Conselho à Ecclesia ateniense e os oficiais denunciados. A ausência de testemunhas – exceto os comandantes – e a distância do fato facilitaram a vida dos eloquentes da acusação.
Terâmines e Mênecles fizeram a festa e acaloraram o debate. Além de bons oradores, lançaram mão do voto em aberto, usado em questões graves de Estado.
De nada adiantaram os argumentos de defesa, atribuindo a tragédia à tempestade que ameaçava toda a esquadra. Assim, para salvar um maior número de atenienses optaram por sacrificar alguns. Ou que levar o acontecimento direto à votação da Assembleia, antes da avaliação das Cortes, violava a lei. Que nada, bradaram os acusadores, “seria monstruoso o povo ser impedido de fazer o que bem entendesse”.
Com muito medo, os partidários dos militares silenciaram, exceto Sócrates, “que se recusa a agir contra a lei’, nos relata Xenofonte.
O povo votou e os comandantes foram condenados à morte e executados em local secreto, como exigia a lei. Tempos depois os cidadãos arrependeram-se da decisão, como se fosse possível corrigi-la.
Com efeito, no caso de Dilma, FHC está à altura de Sócrates. Mas os eloquentes parecem apreciar Tucídides:
“…qualquer ideia de moderação nada mais foi do que uma tentativa de disfarçar um caráter impróprio a um homem: habilidade para entender uma questão sob todos os ângulos possíveis significa completa incapacidade para a ação.”
Escolhas são sempre muito pessoais. Ou como diria minha avò: “há quem goste do olho; outros da remela.
Este é um bom e grande debate.
Estou no Curso de Direito debatendo exatamente isto.
Por isso, muitas das minhas falas tem coincidência com o amigo Plinio.
Adeli Sell