Faz 15 anos que ela se divorciou e, no íntimo, ela não sabe muito bem o porquê. Não que amasse o ex-marido, pois não o amava. Porque ela tinha se casado com ele também lhe era uma incógnita. Sabia que, de certa forma, tinha sido um ato de rebeldia. Mas rebeldia a quê, também não sabia.
Ela era uma mulher interessante, nos seus quarenta e cinco anos. Interessante de certa forma é melhor do que ser bonita, a beleza é um atributo muito frágil ao tempo. Apesar de ser uma mulher interessante, afável e simpática, nesses quinze anos nunca aconteceu nenhuma relação romântica mais estável. A verdade não se via nela nenhuma vontade de ter uma vida romântica, não foi uma decisão pós-moderna de não casar, hoje as pessoas possuem várias opções de relacionamentos e modos de vida e entre elas está: ser sozinha. Não era uma decisão consciente, era uma imposição de seu âmago, algo que vinha do íntimo, daquela parte do nosso ser que sentimos, mas não explicamos, mas que é efetiva nos desígnios da nossa vida.
De alguma forma, ela se mantinha casada com um passado que lhe impunha uma ligação que impedia outras.Num primeiro momento, pensou em seu ex-marido, mas esta ideia nem lhe fazia cosquinhas no cérebro. Mas pequenas ideias, coincidências e alguns sonhos lhe trouxeram certa luz sobre com quem ela estava no fundo casada. Os sentimentos dela na infância e adolescência foram se constituindo em torno de duas posições extremas: a primeira era se manter inacessível e distante, a segunda opção é a tristeza de se sentir rejeitada em sua infância por mais esforço que fizesse para agradar. Esses dois modos de relação, constituíam justamente a posição do pai e da filha em suas relações afetivas, um com o outro, e esses modos também se tornaram as duas possibilidades dela na vida, e em um certo tempo escolheu o primeiro e se encastelou.
Um beijo e um abraço forte para aqueles que não desistiram de ter relações românticas.