Fotografia de André Feltes na peça teatral “Romeu & Julieta” com os atores: Aline Jones e Emílio Farias
Quando ele chega ao ambiente inebria-o com o seu cheiro; não há como não olhar em sua direção; seu corpo celeste, alto e atlético se move de forma espontânea e arrebatadora; quando abre o sorriso para cumprimentá-la, ela não sabe se é a noite que se fez dia ou se é pura energia solar.
Deus de ébano, pele agridoce, daqueles que você passa horas a tocar, sem perder a adoração. Não há assunto que não entenda: é seu advogado que lhe defende das causas criminais, será seu guia turístico para apresentar-lhe a cidade, terá o intuito de malandragem, é flor, é pedra, é extensão do verão.
Na noite em que ela o viu, não houve mais do que uma supernova; seduziu e enfeitiçou-a; expôs seus planos de ser astro e ter seu próprio programa na televisão, apesar de já brilhar pelo cosmos; falou de Oxalá, de Iemanjá e todas suas crenças; propagou em meio aos seus sentimentos avassaladores e do universo: das mazelas que incomodavam seu ser, da necessidade de ajudar as pessoas; declarou a devoção pela sua família, da paixão que existe dentro de seu peito, das vontades que nunca reprime, do prazer de ter o tato na pele, da verdade que em nada consiste, da poesia que carrega dentro da cabeça, da luta de ser negro que ninguém persiste, do ideal feminista que acalenta; lembrou da morena que move-se fagueira em seus pensamentos, do amor que ainda insiste, da madrugada que apimenta, da moça que não mais lamenta seu absentismo.
Tocou todos os pontos de sabedoria que transtorna, de vida, de ideais, geográficas, carnais e perenes, finalizou sua manifestação de afinidade, vestiu-se e foi interpretar outro personagem. Afinal, era ator.