Os acontecimentos das últimas semanas não deixam dúvida. Está cada vez mais difícil acreditar que a população aceite calada qualquer tipo de imposição contrária a sua vontade. Muita coisa vai ser discutida a partir dos movimentos testemunhados pelo Brasil inteiro, enquanto outro tanto de especulações e interpretações dos fatos estão surgindo de todos os lados. Mas as manifestações são praticamente unânimes em dois aspectos: a autenticidade e representatividade do movimento e a objeção ao vandalismo praticado por uma pequena parcela de manifestantes.
O protesto foi uma resposta a uma afronta com a qual temos convivido ao longo de anos. A conhecida corrupção dos poderes, exacerbada pela preparação de megaeventos que estão drenando verbas extraordinárias, deixando a descoberto setores que apresentam históricas deficiências, como saúde e educação, foi, por certo, o caldo de cultura, onde o aumento das passagens de ônibus foi apenas o estopim. O país encontrou uma forma de se fazer ouvir. E, em alto e bom som, fez repercutir pelo mundo sua indignação.
Já se discute a representatividade de nossos eleitos, que se mostraram desconectados da realidade nacional, e, até mesmo, a própria organização interna dos movimentos, em relação à hierarquia e ao modo de atuação. Também foi dito que uma pauta tão ampla, como a que está sendo trazida, acaba por diluir a força de negociação e o potencial de mudanças significativas. Que todas essas pessoas mobilizadas eram tão somente massa de manobra e que um movimento tão forte não poderia ser decorrência apenas da “vontade” dos jovens, que constituem a maioria dos manifestantes, existindo uma estrutura dissimulada por trás.
São meras conjecturas que de nenhuma forma ofuscam o mais importante: a população brasileira está se mobilizando. Mesmo sem participar presencialmente dos atos, as pessoas estão interagindo nas redes sociais, instrumento excelente para divulgação das ideias; em suas casas, colocando panos brancos nas janelas e sacadas, e nos locais de trabalho, trazendo o assunto à discussão. O país parou para questionar.
Ainda é muito cedo para prognósticos acerca dos resultados decorrentes dos movimentos que se espalham pelas cidades brasileiras. Mas, desde já, é visível que existe uma esperança de mudança generalizada. E nós mesmos, independente de quais sejam as conquistas que virão, podemos e devemos dar continuidade a isso, concretizando essa vontade de transformação através de ações. Em menor escala, é levar o maior contingente possível para as manifestações que acontecem todos os dias em associações, sindicatos, conselhos, audiências públicas e outros tantos espaços de participação postos para que exerçamos nossa cidadania. A mobilização pelos assuntos da comunidade pode ser o passo inicial para mudar o que está ao nosso redor.
Foto: Marc Nt