A idéia inicial das bolsas de valores é essa: permitir que pequenos investidores se tornem sócios de grandes empreendimentos e recebam parte dos lucros dessas empresas.
A bolsa nasceu disso. E anos depois, lá por 1780, a Companhia das Índias Holandesas, ou VOC (Vereenigde Oost-Indische Compagnie), já era um negócio constituído que pagava em média 20% de dividendos ao ano e tinha até uma moeda própria.
Com esse histórico de distribuição de lucros, chegou ter média de 16% a.a. em uma década, fazia todo sentido participar desse negócio. Fazia tanto sentido que quem não era sócio queria se tornar.
Como os atuais sócios poderiam vender suas ações, começava um verdadeiro leilão. Quando tudo ia bem os preços dos títulos da VOC subiam e quem quisesse vender ganhava um ágio sobre o preço de compra. O contrário também acontecia, se viessem notícias sobre tempestades ou saques no mar, o preço das ações caía, afinal, ninguém sabia qual impacto disso no lucro da Companhia. Esse ‘leilão’, e essa instabilidade são o dia a dia das bolsas até hoje.
O mercado, principalmente no curto e médio prazo, gira em torno de expectativas, quando essas são boas, os preços sobem, quando se dissipam os preços vem abaixo. E é aí que mora o grande perigo de quem está de fora entrar e se dar mal logo de cara.
O Brasil não tem não um mercado de bolsa de valores maduro. Os custos de transação são altos e falta transparência nas informações. Se fossemos um mercado maduro poderíamos dividir os investidores em dois grupos.
Especuladores: todo aquele que compra ações visando apenas vendê-las a um preço mais alto futuramente, pouco interessado nos lucros que essa empresa irá distribuir na forma de dividendos é um especulador. Antes que você faça um julgamento precipitado do nosso colega especulador, cabe uma defesa. Eles são fundamentais para o mercado, são os especuladores que dão liquidez aos investidores. De 2008 para cá, vi pouquíssimos não perderem dinheiro.
Investidores: Aqui cabem algumas observações. Muito por culpa do nosso histórico inflacionário, a Bovespa nunca ‘deslanchou’ de fato. Em 88 a ‘Veja’ se referiu a bolsa brasileira como um Botequim Organizado, e até 2000 essa definição fazia todo sentido: Não negociávamos nem US$ 1 Bi por ano.
Foi quando o governo Federal autorizou o uso de recursos do FGTS para a compra de ações da Petrobras, em um primeiro momento, e da Vale logo em seguida, isso promoveu um significativo aumento de volume negociado nessas empresas (mais gente comprando é igual a maior demanda, demanda maior com oferta constante, resultado: preços mais altos), de 2000 a 2007 as ações da Petrobras valorizaram mais de 400% e quem investiu na Vale multiplicou por 10 o valor investido. Lindo não?
É aí que mora o problema, como muita gente estava ganhando muito dinheiro na Bolsa sem nem saber por que, todo mundo achou que era fácil, que era só comprar ações da Petrobras ou da Vale e correr para o abraço. De janeiro a dezembro de 2007 o número de investidores na bolsa mais que dobrou.
E então veio o que ninguém esperava (Ninguém não, um pessoal tava avisando isso há horas). Crise no setor imobiliário e bancário derrubando as bolsas de todo mundo.
Muita gente que comprou ações da Petrobras a R$ 50,00 está com elas há mais de 3 anos e elas valem hoje R$ 18,00.
O que deu de errado? Se esperar é certo que vai voltar? Vale a pena comprar mais agora a R$ 19,00 e ‘torcer’ para subir?
As respostas a essas perguntas podem não passar de um exercício de adivinhação.
A única coisa clara sobre o mercado é que: investidores devem se preocupar com lucros, não se investe em negócios que dão prejuízos.
Empresas de capital aberto que apresentam lucros distribuem parte desses lucros aos acionistas, é a lógica lá das Companhias das Índias, portanto os investidores devem se ater a quanto tem sido os últimos pagamentos de dividendos das empresas que eles querem se tornar sócios.
Isso não é nada difícil. Quem investir um pouco de tempo vai descobrir uma série de sites onde conseguir essas informações. Não quer nada disso? Pense em comprar cotas de um Fundo de Ações em Dividendos oferecido pela grande maioria dos bancos. Nele um gestor irá aplicar o capital do fundo apenas em empresas com um bom histórico de dividendos.