O poeta Manoel Bandeira anunciou : “… a mocidade vai acabar”. Não aceitei até hoje. Acordo diariamente com a sensação de ainda precisar viver muito mais, não me canso disso… apesar de saber, sem questionamento fantasioso, que a vida passa. É obvio que aquela mocidade das coisas incansáveis não me arrebata constantemente, mas ainda invento projetos para os próximos cinquenta anos…
Durante essa semana recebi alguns dias uma visita no meu trabalho, era uma menininha dos seus nove anos. O olhar vivo e o andar infantil determinam que ela tem a certeza da felicidade e isso é um entusiasmo para quem está próximo dos cinquenta.
Para ver a juventude é preciso querer vê-la e esse querer vem num ímpeto involuntário, basta aceitá- lo.
Segunda-feira (22) eu e a pressa, minha inimiga, fazíamos as compras de última hora no mercado perto de casa; entre a escolha dos legumes, pensamentos financeiros e a vontade de não fazer nada, senti como uma onda uma incontrolável multiplicação de vozes, e gestos, e…era um grupo de uns 15 jovens, peregrinos, visitantes na cidade maravilhosa, vieram ao encontro de outros para a jornada Mundial da Juventude católica. Meu primeiro pensamento foi imaginar o tamanho da fila. Corri com minhas escolhas e fui para o caixa, mas me contive, parei tudo e observei, respirando aquele ar de naturalidade, certezas e muito não saber o que vai ser. No mercado, as pessoas seguiam seus rituais e aquele grupo cumpria seu tempo. O dia continuou e a presença deles ficou em mim. Na verdade, me confundi em presente e passado.
Esses jovens, vindos de toda parte do mundo, se encontram unidos pela fé. Esse sinal de reunião já aconteceu em vários outros momentos da história e o intuito de um mundo melhor me parece não ter vingado. Vemos diariamente exemplos de uma humanidade perdida e desencontrada. Sabemos que o mundo estaria pior não fossem esforços como esses, mas há que se pensar no depois… sim, o que farão depois da festa?
Mesmo com reflexão um tanto descrente,vejo que a cidade se transformou num fluxo de energia que encheu meu olhar de memória. Com as pupilas dilatadas, abri as portas do passado e vi, de volta, o riso frouxo… que saudade dele, onde havia se escondido? Não sei o que ainda virá, única certeza de hoje, mas que a mocidade não se foi, isso eu sei, mesmo que não seja a minha.